sábado, 29 de dezembro de 2012

POP! Tin..Tin..Sucesso [O retorno]

“Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário” – Napoleão Bonaparte



O “vinho das borbulhas”, aquele que alegra mentes e corações, champagne (só) para os franceses, cava para os espanhóis, sekt para os alemães, franciacorta, asti, procecco, para os italianos, espumante para muitos inclusive nós brazucas, bem que merecia mais.
O papel de coadjuvante nas comemorações é uma tremenda injustiça com um dos mais finos e elegantes vinhos do mundo
Em qualquer reunião de final de ano, festa, festinha ou festão,lá está ele sendo maltratado pelo leigo cidadão, mal guardado, aberto de forma incorreta, servido em copos errados, bebido sem a menor atenção, um verdadeiro figurante.
Não sou contra a alegria de viver, sentimento comum nestes momentos especiais, muito pelo contrário, e o vinho espumante tem tudo a ver com a alegria em todas as suas dimensões.
Acontece que não vejo motivo para não se respeitar uma das bebidas mais complexas e difíceis de serem produzidas, pergunte a um produtor francês para você ver.
Frase de uma produtora tradicional “ duro mesmo são os primeiros 200 anos”
Há quem use copo de plástico! ou quem acha que está em um “pódium” da F1, sacolejando a coitada para lá e para cá, abra uma cidra então companheiro, dá na mesma, também faz “pop”!
O legal de tudo isso é que há algum tempo, através de um esforço organizado de produtores, comerciantes, críticos, apreciadores, entre tantos, o espumante está deixando de ser apenas a bebida oficial das ocasiões festivas.
Está perdendo também aquele jeitão de elitista, de ser companhia só para quem já passou dos 40, para ocupar o seu devido lugar, a de um vinho completo, um vinho gourmet, um dos vinhos mais versáteis quando se trata de acompanhar uma comida, das ostras de entrada ao mousse de chocolate de sobremesa.
Os mais simples são mais leves e frescos, com aromas de frutas, pêra, maçã verde, cítricos, o mais elaborados podem oferecer um pouco mais, nozes, amêndoas, avelãs, pão torrado...etc
E melhor ainda é que ele está aqui pertinho da gente, acessível, bom e às vezes até barato, o Brasil se não é vai ser, em pouco tempo, o melhor produtor de vinho espumante de qualidade do mundo, já que o original é de outro planeta.
A verdadeira vocação da Serra Gaúcha está no vinho espumante, e nós e todo o resto estamos de acordo com isso, o reconhecimento, a última etapa para o sucesso “retumbante” do espumante nacional

“Nunc est bibendum” – Beber champagne é como beber estrelas – Dom Pérignon
Até breve, Bacco a seu dispor.....um Feliz Ano Novo, beba mais espumante em 2013, em qualquer lugar, em qualquer situação.
 Obs: Texto revisado, publicado inicialmente em 31/dez/2011

Thanks : Sérgio Inglez,Vinho Magazine, Larrousse......

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Você é bom de copo?

Ou quando formato é documento sim!!!!

Taças e copos “corretos” ajudam a bebida a chegar ao ponto ideal da boca, acertam sua temperatura, valorizam sua aparência, entre outras coisas....
Claus Riedel (cristaleiro austríaco) estudou e concluiu que formato, abertura, material de uma taça tem efeito direto na apreciação da bebida.
O que Riedel não se preocupou foi com os custos destes copos e taças, quem fez isso muito bem como sempre foram os americanos, responsáveis por nos dia de hoje possibilitar a cada um de nós encontrar e comprar o copo certo para a bebida certa, tamanha a variedade existente nas lojas especializadas
Esqueçam o copinho de plástico descartável para sempre, não serve nem para beber aquela água gostosa, pura cristalina, com ou sem gás, da sua preferência
“No copo de cristal de borda curta a água se mostra mais salina e fresca. O formato da borda força os lábios a se moldarem num biquinho, dirigindo o líquido para o centro da língua, o lugar certo para uma bebida de sabor neutro como deve ser uma água de procedência correta.”
Bons copos e boas taças amplificam a experiência de beber, fazem isso por meio do seu formato,suas curvas, sua abertura, seu tamanho e do material de que são feitos
Claus Riedel foi a primeiro a notar isso, diferentes formatos proporcionam diferentes impressões, além de poder direcionar o fluxo da bebida na boca. Ele criou mais de 40 diferentes tipos de copo para vinho, um para cada uva entre as castas mais conhecidas ! Suas regras criaram um “padrão” para muitas das melhores “cristaleiras” do mundo. Na seqüência outras formas foram criadas para os mais diversos tipos de bebida. A moda dos coquetéis foi um marco neste sentido.
Teores alcoólicos, texturas, aromas e sabores fazem parte do “cotidiano” de toda boa bebida, cabe aos bons e corretos copos e taças amplificarem estas características valorizando a bebida, e ajudando o apreciador a identificar o seu potencial de qualidade
Os copos são projetados para direcionar a bebida para as áreas que ressaltam os aromas e sabores desejados, e desde modo valorizam o que ela tem de melhor
Copos de fundo curvo destacam os aromas, são os mais apropriados para vinho por exemplo, o movimento de onda criado pelo fundo curvo ajuda a desprender os aromas voláteis, fazendo com que estes retornem para o nariz da pessoa que está apreciando a bebida. A boca reta ou curva do copo também tem influência na percepção dos aromas. Quer manter a bebida fresca, use copos pequenos e de vidro grosso, bebidas doces devem ser servidas em taças pequenas que destacam os aromas frutados. Borda redonda tende a acentuar a acidez, hastes longas faz com que a pessoa projete o pescoço para trás, jogando a bebida para o centro e as bordas da língua, favorecendo a percepção de acidez (espumantes!) e aromas complexos ( ver características gustativas da língua )
O eixo França – Alemanha – Áustria, concentra as “cristalerias” mais tradicionais, aproveite o final de ano e quando for abrir seu vinho escolhido, use a taça adequada e observe a diferença no prazer de beber....

“Nunc est bibendum, obrigado Riedel..., e então você é bom de copo??
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref : leia também Copos de Bar&Mesa – Edmundo Furtado
obs: O copo ISO (padrão) foi criado para servir de padrão e é normalmente usado em degustações oficiais . Trata-se de uma taça de haste curta, bojo arredondado, e boca mais estreita. Tem capacidade de 215ml, e vem com uma marcação lateral indicando até onde o copo deve ser enchido. Sua composição combina porcentagens controladas de óxido de chumbo,bário, zinco e potássio, garantia de transparência (fundamental) e resistência.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Vinhos de sobremesa - Além da colheita tardia..

Não gosto muito desta definição, acho que em muitos casos diminui o alcance de alguns destes vinhos, coloca todo vinho docinho no mesmo saco. Não dá companheiro......
Será que um legítimo Sauternes, ou um Tokay com seus “puttonyos” lidam bem com esta classificação?
Nada contra as sobremesas, algumas são geniais, merecedoras de uma nobre companhia, é só tomar alguns cuidados com ela.....
Em termos gerais, colheita tardia significa simplesmente um adiamento da hora da colheita e só, não é suficiente para definir a qualidade do produto final........
Um vinho doce não precisa e não deve ser enjoativo, o equilíbrio entre acidez e doçura separa os bons dos ruins, além do fato de que esta doçura venha da concentração de açúcar da fruta e não de uma digamos “ajudinha externa”.......
Além disso, um vinho doce para ser considerado bom precisa oferecer algo mais além da doçura em si, espera-se aromas e sabores complexos e agradáveis
Existem vários processos para se chegar a um vinho doce, mas não vai ser na véspera do Natal que nós vamos discutir isso.
Ao invés disso vamos simplesmente mencionar aqui algumas opções que você tem para fazer parte da sua ceia de logo mais
O Moscatel de Setúbal, um legítimo merecedor da sua atenção.
O Banyuls típico representante dos “vinhos doces naturais” da França.
O toscano Vin Santo companheiro dos biscoitos, frutas secas, nozes,avelãs,castanhas,.....e panetones!, tudo aqui cheira a Natal !!!
O nobre e mais festejado vinho de sobremesa, olha o título aí, o francês Sauternes.
A jóia húngara, o Tokay que melhora com o nº de puttonyos, infelizmente encarece também na mesma proporção...
Os “icewines”, vinhos do gelo alemães, austríacos e canadenses, raros e caros....mas uma experiência única.
Os impronunciáveis “beerenauslese” e “trockenbeerenauslese”, não se intimide, se resolver arriscar apenas aponte para a garrafa e depois pague, e bem....
Não sei se devo mencionar aqui também os “late harvest” do Novo Mundo, Chile, Argentina e até Brasil produzem seus colheitas tardias, o perigo é errar a mão ( a chance é grande ) e decidir nunca mais voltar a provar um vinho doce, o que seria um pecado. Passo............

“Nunc est bibendum”, um doce Natal para todos
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: Viotti / Coleção Folha (foto)



sábado, 22 de dezembro de 2012

Tudo que voa combina com Pinot

Final de ano e em geral pinta aquele stress..[zinho],nas nossas mentes as metas não atingidas aparecem mais fortes do que as vitórias conseguidas, e aí novas promessas são feitas para o novo ano que está chegando...........



Comprar os presentes, enfeitar a casa, montar a árvore de Natal, juntar a família e amigos, ......pensar na ceia, até ajuda nestas horas....
A ceia então, o que será esse ano ? muita conversa, reunião de família para decisão importante, palpites muitos, e a conclusão : peru claro !, quando muito um “chester”????, por um acaso você já viu um chester vivo?.
Independência ou morte, me recuso a dar de cara com um “chester” na noite de Natal, vivo ou morto tanto faz, aí não tem como tratar do stress...., Que tal um pato então, e o cabrito, aquela receita deliciosa da tia que eu não me lembro o nome, uma leitoa bem pururuca, um bacalhau,....tender com fios de ovos por favor não, olha o stress!!!!!
Polvo! why not ? na casa de um amigo meu não falta nunca, uma tradição portuguesa.............
Maravilha, viva a diversidade, o livre arbítrio, a liberdade, a democracia,.....que beleza, adoro isso, como alivia o stress....
Mas e aí o que vamos beber? Óbvio, caramba ! vinho é claro, branco, tinto, espumante, fortificado, qualquer um, todos, não sou ditador, mas sem chance irmão, fica na sua, não inventa, nem vem, não se discute mais............e ponto final.
Ok companheiros, junto com essa minha impressionante demonstração de flexibilidade com relação a escolha da bebida , segue minha humilde sugestão para uma literalmente harmonizada ceia de Natal
Comece com um espumante, comece e termine se quiser, ele aceita tudo, aquelas entradinhas, o ar de comemoração, o amigo secreto, a confraternização, o brinde, é com ele mesmo. Temos bons espumantes brasileiros, alguns com preços honestos, prefira o “brut”, sua acidez vai ajudar você a atravessar os excessos de gordura da noite especial. Chandon, Salton, Miolo, Valduga, Pizzato, Pericó, Cave Geisse, Aurora.....escolha uma.
Depois um tinto, tem até lugar para brancos em qualquer ceia, mas o tinto tem a preferência de 80% dos brasileiros, é mais fácil de agradar ao público em geral, de todas as idades, ....até aquela tia do cabrito.....
Escolha um Pinot !, muitos o consideram o vinho mais versátil em qualquer situação, um branco vestido de tinto, taninos macios, boa acidez, aromas fáceis, um estilo quase sempre amigável.....fácil de gostar.
Não precisa pensar na Borgonha, vai doer no bolso, olha o stress.......,podemos ficar com um chileno ou um argentino sem medo ser feliz, se for do Chile escolha um dos vales do Casablanca e San Antonio....gosto muito do Amayna, mas tem outros, Leyda, Casa Marin, Matetic, Herú, Morandé, ..........
Se for dos hermanos, escolha um patagônico, a Pinot agradece ao friozinho da região , Chacra, Luca, Humberto Canale, NQN, Família Schroeder........... , experimente.
É bem verdade que a Pinot é uma uva no mínimo “tinhosa”, e algumas vezes seus vinhos podem decepcionar os menos e os mais avisados, por isso deixo aqui minha segunda opção : Merlot !
O quase sempre macio e sedoso Merlot é um dos vinhos tintos mais populares do mundo, educado costuma respeitar uma gama muito grande de paladares, ficou na dúvida quanto ao Pinot, vai de Merlot.
Com a escolha você tem a chance de prestigiar a industria nacional, os melhores tintos brasileiros são feitos de Merlot, se o preconceito bater forte, escolha um chileno então, são ótimos, em todas as faixas de preço..........
Chegou a hora da sobremesa, essa não muda, é a mesma todo ano, receita da vó, infalível, ninguém resiste.....já experimentou um vinho do Porto!

"Nunc est bibendum", um Feliz Natal a todos,........... e bons vinhos o ano todo
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: “Comida e Vinho – José Ivan Santos / José Maria Santana, “Vinho e Comida” Joanna Simon







quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho - IX

“Os povos do Mediterrâneo começaram a sair da barbárie quando aprenderam a cultivar a oliveira e a vinha” – Tucídides, historiador grego – séc.V a.C

O grego sabia que o azeite e o vinho eram importantes fatores no desenvolvimento do comércio, e que o vinho em particular dava uma nova dimensão às relações sociais da época.
Confidências, poder, status, celebrações, idolatria, mas também guerras, dominações, traições, estavam associadas de alguma forma à presença e cultura do vinho.
Por volta de 2.000 a.C, Creta no antigo mundo grego era o melhor exemplo deste cenário, uma civilização requintada, complexa, organizada comandada por um palácio real onde se concentrava o poder e o conhecimento.
Depois de Creta veio Micenas, a mais nova grande potência do mar Egeu. (1.500 a.C)
Com a liderança de Agamenon, os micênios com a colaboração do espartanos sitiaram e tomaram Tróia !
Quem não conhece esta lenda épica de autoria de Homero? Quem com mais de 50 não assistiu “Helena de Tróia”( e se apaixonou por ela)
Escavações recentes revelaram a adega de um governante desta época, Nestor de Pilo, continha mais de 6 mil litros de vinho !
Você até pode duvidar da real existência do tal Cavalo de Tróia, (eu prefiro continuar a acreditando em Homero... e no cavalo), mas a adega deste tal de Nestor rei do Peloponeso eu asseguro que é bem real!
Claro que nem todos gregos eram filósofos, mas não é pecado pensar ao contrário e se deliciar com suas historias, muitas delas com a divina presença do vinho..., algumas pérolas gregas apresentadas por Hugh Johnson em seu livro “ A História do Vinho”

“Na costa da Sicília, o ciclope Polifeno, um gigante com apenas um olho capturou Odisseu e devorou seus companheiros. Odisseu então ofereceu-lhe o poderoso vinho de Máron, tinto doce como mel, com a desculpa de ser um bom digestivo. O ciclope mais habituado ao “fraco” vinho siciliano, após beber o vinho maroniano por 3 vezes de um só trago mergulhou em um sono profundo, Odisseu se aproveitou disso e vazou-lhe o único olho. As rochas que o gigante cego atirou contra o herói fugitivo ainda se encontram no mar, perto do monte Etna, submersas!! – Homero, ...uma delícia!

“Os rapazes com menos de 18 anos não devem provar o vinho, não convém lançar lenha ao fogo, até os 30 anos pode-se tomar vinho com moderação, tendo chegado aos 40 pode-se convidar Dionísio para o sagrado ritual que o deus concedeu aos homens para aliviar seu fardo, o vinho que nos permite recobrar a juventude e esquecer o desespero” – Platão,.... e viva a liberdade dos idosos !!!

“Ora, vê, é quando bebem que os homens desabrocham, enriquecem, incrementam seus negócios, ganham suas causas, tornam-se felizes, beneficiam seus amigos” Demóstenes,....... saúde companheiro!

Um exemplo da sabedoria grega “ Três taças preparo para os comedidos, uma para a saúde, outra para o amor e o prazer, e a ultima para o sono, a quarta taça já não é nossa......” Eubulo 375 a.C. .....sabedoria que sobrevive aos séculos

Concluindo com o mais sábio dos filósofos gregos, “ O vinho abranda e acalma os espíritos e adormece as preocupações da mente [...],reaviva nossas alegrias e é o óleo para a nossa moribunda chama da vida. Se bebemos com moderação, em pequenos goles, o vinho destila em nossos pulmões como o mais doce orvalho da manhã[....].Nestas condições não nos arrebata a razão, mas prazerosamente nos convida a alegria. - Sócrates !........

Ler e refletir sobre os gregos e a Grécia antiga e a relevância do vinho na sua cultura só me dá mais sede, vamos ao vinho então.
“Nunc est bibendum”, que tal mais atenção com os gregos dona Ângela M.....
Até breve, Bacco a seu dispor.

Ref : Foto e trechos retirados do livro de Hugh Johnson – “A história do Vinho”
Helena de Tróia – Cine Palácio – SJC,1960 e algo.( lembrou Darnley! )





quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DDD-Bacco nº12- Onde mesmo cresce a videira? Fim

Dúvidas Devidamente Degustadas.

Nós já vimos que o termo “continentalidade” expressa a variação de temperatura entre inverno e verão, quanto maior a diferença maior a “continentalidade”,ok?
Esta diferença pode ser reduzida pela presença de grandes massas de água, oceanos e grandes lagos por exemplo.
Grandes corpos de água esquentam o inverno e esfriam o verão, e podem ser fundamentais para a viabilização da viticultura em uma determinada região.
Os grandes vinhedos do mundo têm como sócios um grande rio! Pesquise.....
Pequenas massas de água acabam por influir na temperatura de um dia, mais precisamente na variação entre dia e noite.
Nestes locais com presença de rios e lagos a nebulosidade também é mais alta e também exerce influencia.
Nas noites limpas a temperatura cai mais rapidamente e aumenta mais demoradamente nos dias nublados
As noites frescas ajudam no descanso merecido da pobre videira, submetida a um trabalho árduo durante todo o dia, e acabam por prolongar a temporada de crescimento.
As noites quentes aceleram a maturação das uvas em particular a produção de açúcar.
Estes “ciclos de vida” têm relação direta com a qualidade final do vinho.....( se o homem não atrapalhar é claro)
De uma forma geral regiões com alto grau de continentalidade, também apresentam grande variação de temperatura entre dia e noite, o chamado “gradiente térmico”
Vinhos produzidos em regiões de alto gradiente térmico tendem a ser mais “frescos” e mais “aromáticos”, vinhos produzidos em regiões de baixo gradiente térmico tendem a ter mais “corpo”, novamente, com tanto que o homem não interfira demais nas leis da natureza.......

“Nunc est bibendum”, um vinho com um mínimo de respeito pela natureza por favor................
Até breve, Bacco a seu dispor....

Ref : WSET “ Understanding Style and Quality”



domingo, 25 de novembro de 2012

DDD-Bacco nº11-Onde mesmo cresce a videira? II


Dúvidas Devidamente Degustadas

É a temperatura mais ainda do que a boa disponibilidade de luz solar quem determina o “varietal” que vai poder ou não prosperar rumo ao sucesso em uma determinada região.
A temperatura tem impacto relevante em cada etapa do ciclo de crescimento de uma videira.
Em regiões mais frias os brotos aparecem mais tarde, encurtando a temporada de crescimento, prejudicando a maturação da uva.
Uvas “preguiçosas” geralmente tintas, não devem se dar muito bem por aqui.
Quando estas uvas não amadurecem legal, seus vinhos são do tipo “herbáceos”, gosto de folhagem, de grama, de verde em geral, e raspam fácil, fácil, nas gargantas menos avisadas........., bem pouco agradável.
Com temperaturas baixas durante a maturação as uvas retém mais ácidos e acumulam menos açúcar.
Por outro lado, nas condições mais quentes, a brotação ocorre mais cedo, o tempo para amadurecer fica maior e a maturação mais acelerada, quase sempre com certa perda de acidez, porém com taninos mais maduros e sabores mais desenvolvidos, mais complexos, bom isso!
É bem por aí, razão para as brancas que não precisam de taninos maduros mas sim de boa acidez, preferirem as temperaturas mais amenas, mais frias, e as tintas se sentirem mais em casa quando a temperatura é mais alta. Legal, vale como regra geral.................
A latitude do vinhedo tem tudo a ver com seu ciclo de crescimento, quanto mais longe do equador mais baixas as temperaturas médias, nasce aqui a premissa de que bons vinhedos estão entre 30º e 50º de latitude ao norte ou ao sul da linha do equador. Viu aí!
Para não ser tão rígido assim precisamos levar em consideração alguns outros fatores que podem alterar esta matemática, quebrar este paradigma.......
Altitude, quanto mais alto mais fresco, algo como 0,6ºC a cada 100m, único motivo por exemplo para se plantar uvas e fazer bons vinhos em Cafayate na Argentina
Correntes Oceânicas, elas podem esquentar ou esfriar o ar que está por cima, alterando o clima natural de algumas regiões do planeta, bom exemplo vem da quente África do Sul, que possui seu “ar condicionado” exclusivo, a corrente de Benguela
Neblina, onde e quando ocorre a temperatura permanece mais baixa até que ela suba, Casablanca no Chile agradece à ela quase todos os dias da sua vida.
Solo, claro que não poderia deixar de ter grande influência, os formados por pedras e rochas por exemplo ajudam a manter um calorzinho confortável e fundamental próximo aos cachos e assim contribuir para a uva amadurecer como precisa.
Orientação, nas colinas as uvas plantadas orientadas para o equador recebem mais calor, em um clima frio esta posição faz a diferença, “Chablis” na França, “Mosel” na Alemanha, ...e assim por diante....
Mais uma vez, é toda esta complexidade e variedade de fatores que contribuem para o charme da vinicultura, e claro do vinho que bebemos....

“Nunc est bibendum”, bendita temperatura..........., saúde!
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: WSET – Understanding Style & Quality









quarta-feira, 21 de novembro de 2012

DDD-Bacco nº10-Onde mesmo cresce a videira? I

Dúvidas Devidamente Degustadas
Antes de mais nada a videira precisa sobreviver, depois podemos pensar no vinho, no seu estilo, na sua qualidade.Para isso ela precisa tirar o que precisa do meio em que ela vive, e aí vem o “calor”, peça fundamental para o crescimento da videira.

Recordando a fotossíntese : com luz solar e clorofila das suas folhas, a videira combina CO2 e H2O para produzir Açúcar e O2 (valeu Zélia!).
Este açúcar e os nutrientes do solo ajudam a videira a crescer e principalmente a “madurar” suas uvas!!
O O2 vai para a atmosfera liberado pelas folhas...
O gás carbônico é abundante na natureza, sobra para o clima, o tempo, e o solo, a responsabilidade por uma videira saudável capaz de produzir uvas de qualidade
Clima e Tempo não são a mesma coisa, acho legal entender isso...
Clima: média dos padrões anuais de temperatura, luz solar, e chuvas, registrados ao largo de vários anos
Tempo: variação anual em torno de uma média climática.
Agora, vamos traduzir aquele “calor” fundamental em números, menos de 10ºC a videira hiberna, o chamado “repouso vegetativo”, mais de 22ºC a coisa complica, a videira cessa sua atividade e se nesse momento também faltar água, aí já era.
Aqui já podemos elaborar uma classificação do Clima em função destas temperaturas, vamos lá
“Clima Frio” : engloba regiões com temperatura média durante a temporada de crescimento igual ou inferior a 16,5ºC
“Clima Temperado”: temperaturas entre 16,5ºC e 18,5ºC
“Clima Quente” : temperaturas entre 18,5ºC e 22ºC
“Clima Muito Quente” : temperaturas acima de 22ºC, sem ajuda da altitude, nestas regiões as coisas podem ficar muito complicadas para as videiras....
Para um classificação porreta do Clima precisamos considerar a variação da temperatura ao longo do ano, aquilo que chamamos de “continentalidade”,e até ao longo de um só dia, dias quentes e noites frias !, tem também a quantidade de chuvas e a quantidade de luz solar ao longo do ano, ambas vitais para o processo como um todo.
Agora já podemos dar nomes aos bois!
Clima Continental : regiões que apresentam a maior variação de temperatura entre verão e inverno, os verões são “curtinhos”, e os outonos já são bem “friozinhos”.
Clima Marítimo: regiões de temperaturas frescas e temperadas , com pouca diferença entre os meses mais quentes e os mais frios, chove de forma distribuída o ano todo...
Clima Mediterrâneo : igual ao Marítimo, mas com uma particularidade importante, os verões são quentes e secos.
Claro que cada um destes é favorável ou não a cada variedade de uva, a íntima relação entre eles vai determinar a qualidade do resultado final, é aí que mora o encanto.........

“Nunc est bibendum”, para mais voltamos logo mais...
Até breve Bacco a seu dispor...

Ref : WSET – “Understanding Style and Quality”

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Rapidinha - "Bordeaux atravessou o canal"

Diga a um francês que você está cultivando videiras na Inglaterra e ele vai pensar que é uma piada” – Ian Berwick

Não tenho a menor pretensão de discutir aqui os méritos do aquecimento global, se as previsões são corretas ou não, se somos os maiores culpados ou não, e assim por diante.
O derretimento dos pólos, as inundações das regiões litorâneas, o desaparecimento de espécies animais, para os crentes é catástrofe atrás de catástrofe, o fim do mundo está logo ali.
A Terra está mais quentinha? parece que sim, mas não há razão para pânico dizem os céticos, isso já aconteceu antes e nosso planeta soube como se recuperar, será mesmo?
No meio de tudo isso, os ingleses disfarçadamente torcem a favor, ou será contra....
Aquela velha ilha, cinzenta, chuvosa, fria, já apresenta períodos relativamente longos de “céu de brigadeiro” com temperaturas bem mais amenas, quase propícias para uma aventura com as francesas mais famosas.
Do outro lado da Mancha, se os crentes estiverem certo, em bem pouco tempo Bordeaux e Borgonha vão estar em apuros, suas nobres e valiosas Cabernet e Pinot vão estar no fio da navalha, não suportando o “intenso” calor !
Já imaginou, um tinto único, complexo, elegante, profundo, longo, uma explosão de aromas, cuja origem está diretamente ligada a um terroir mais que perfeito nas proximidades de Yorkshire e Lancashire, que loucura!!
Pesadelo completo para os orgulhosos franceses, se isso for verdade mesmo, eles certamente vão se juntar ao urso polar na lista de espécies em extinção devido ao aquecimento do planeta.
Por via das dúvidas é bom colocar as barbas de molho, a área plantada com vinhedos na Inglaterra passou de meros 190 hectares para quase 1.000 nos últimos 30 anos, não é nada não é nada mas já incomoda.
Pegadinhas do aquecimento global, os ingleses agradecem...
“Nunc est bibendum”, cheers!!!
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: “Vinhos no Mar Azul” – José Guilherme R. Ferreira.



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Papo com Bacco 2 anos - Um tempo para agradecimentos

Difícil de acreditar que nós seguimos juntos nestes 2 anos,  viva ! viva! vitória! 
Um início carregado de dúvidas e interrogações, mas com muita motivação de realizar algo, um 1º ano que me remeteu a saudosas lembranças, e agora um 2º ano que digo sem medo de ser feliz, me traz uma sensação de vitória muito gostosa, como poucas na vida.
99 publicações! dá para imaginar! um trabalho do cão, mesmo aqueles que são profissionais do ramo de uma forma ou de outra reconhecem a dificuldade em manter a constância, o ritmo, a qualidade , e por fim o interesse dos leitores pelas matérias.
Meu primeiro agradecimento, aos estudiosos, especialistas, escritores, colunistas, jornalistas, e blogueiros como eu, grande fonte de informações e referências, ajuda muito importante que não deve nunca deixar de ser mencionada ....valeu!
Exatos 6.865 acessos neste momento! Para quem começou pensando em dividir singelos pensamentos sobre o mundo do vinho com a família (apoio incondicional garantido!) e um punhado de amigos ( quase idem!), a meta é muito legal, já faz um “carinhozinho no ego”, tenho que admitir. São pessoas que não me conhecem pessoalmente, morando em várias partes do mundo, que simplesmente se dão ao trabalho de ler o que eu escrevo, indecifrável.........
Meu segundo agradecimento, “obrigado”, “thank you”, “spacibo”, “gracias”, “danke”, “merci”, “grazie”, “ paldies” aos meus leitores, maiores responsáveis pelos dois anos do blog.
Mais do que um hábito, mais do que disciplina, na verdade um enorme prazer de escrever, de colocar no papel mais do que simplesmente dados, mas idéias, argumentos, opiniões, provocações, sentimentos, paixões,...sei lá, e eu pergunto, de onde veio a fonte da vontade e da inspiração, fácil é só pensar um pouco e lembrar dos abnegados professores Norberto Souza Pinto e Antonio Marussig, mais do que apaixonados pela profissão, apaixonados pela expressão e significado da palavra.
Meu terceiro agradecimento, obrigado vô, obrigado pai...........que Deus os abençoe
Caramba! dois anos de dedicação ao blog, só satisfação, parece que o primeiro post foi escrito ontem!“Bacco a seu dispor” (07/11/2010), e foi com esta disposição de informar, dividir, divertir, ( e beber), que continuo aqui, confesso que se não fosse pelo meu neto Enrico não teria percebido o tempo passar, explico:
O Enrico tem justamente a idade do blog, e é impossível não ver, medir, sentir sua evolução, aquele recém nascido de ontem, hoje já interage com as pessoas, já me chama de “vô” e que “avô” eu seria se não percebesse o passar do tempo e o crescer do meu neto , imperdoável...
Meu quarto agradecimento, obrigado Enrico Marussig, minha referência de tempo e espaço.
Acho melhor ficar por aqui apesar da vontade de continuar agradecendo aqui e alí, completo 2 anos de blogueiro amador apaixonado por vinhos me sentindo feliz, realizado, maior, e com muita vontade de continuar, “vocês vão ter que me aturar”, parece que já ouvi isso antes???
Grande abraço a todos, não se esqueçam, Bacco está sempre a seu dispor...

“Nunc est bibendum”, com licença, hora de dividir um grande vinho com a Bia, minha parceira para todas as horas ( inclusive esta )
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref : Eu.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Rías Baixas, a Espanha galega...

"Roseira de teu mencer"

Era um airiño soave
Que se ergueu póla mañan
E viña de non se sabe
Era um recendo de rosas
De roseira de ningures
Que se meteu póla porta

Xosé Maria Alvarez – Vigo- 1915-1985

Não lê (leu) Paulo Coelho, não é sócio ativo da “ACACS”, Associação Confrades Amigos Caminho de Santiago, nunca pensou em percorrer o “Caminho”, calma, muita calma neste momento, sem motivos para pânico, seu direito de provar o que pode representar “os melhores brancos espanhóis” continua garantido, beleza?
Para visitar a Galícia e provar brancos delicados, vivos, refrescantes, aromáticos, acompanhados de um bom prato de mariscos (especialidade local), não é preciso pagar pecados, elevar a alma ou coisa parecida, embora a catedral de Santiago de Compostela seja um lugar a ser visitado, ficou mais fácil?
Quem manda na Espanha são os tintos de Tempranillo, concorda? os brancos sofrem um pouco mais com o clima quente e árido em geral, podem perder acidez, frescor, qualidades obrigatórias nestes vinhos...
Já a quase esquecida Galícia, lá no cantinho do noroeste em cima do Minho português, é fresquinha, verdinha, algo selvagem, chove bem por lá e a “Albariño” a uva da denominação Rías Baixas agradece e concede ao apreciador de brancos, o máximo do seu frescor e aromas florais, absolutamente nada igual ao que se possa chamar de tradicional vinho branco espanhol, geralmente de Rueda e sua uva local Verdejo........
Em pouco mais de 20 anos a região saiu de uma estrutura agrária com jeitão medieval para a modernidade das adegas de Rías Baixas, e seus brancos começam a chamar a atenção dos apreciadores.
Os traços celtas estão por todo lado, não apenas na língua galega que guarda relação com o português (atenção para o poema), mas também no misticismo, vide Compostela.....
Então vamos nessa, damos uma folga para a Tempranillo e pedimos um Albariño de estilão galego, de acordo....
“Nunc est bibendum”, para isso não precisamos do Paulo....
Até breve, Bacco a seu dispor.

Ref : André Domine, Jancis, Amarante, Viotti, o poeta mencionado

sábado, 3 de novembro de 2012

Ribera e o moderno vinho espanhol

Falam por aí que eu tenho alguma diferença com Rioja, acho que não, até porque como já disse antes, não conheço o vinho espanhol para tanto, mas até onde consigo chegar me empolgo mais com os “Prioratos” e os “Riberas”.Já passamos pelo Priorato no "post" “Scala Dei”, agora vamos de Ribera Del Duero.....reconhecida por muitos como a grande rival da respeitada e tradicional Rioja.
Até ontem Ribera às margens do Duero não era nada, alguns poucos pioneiros, cooperativas voltadas para a máxima produção e para atender as necessidades da vizinha mais poderosa.
De repente, mostrou sua cara e passou a reivindicar seu lugar ao sol (literalmente) no novo cenário vinícola espanhol.
Sua força vem dos seus robustos tintos, sua base, adivinha ? quem pensou Tempranillo acertou, fácil essa né não? Afinal estamos na Espanha!
Acontece dizem as más línguas, que a Tinta del País, nome da dita cuja por estes lados, adora seu “terroir” e retribui a hospitalidade com uma entrega mais generosa, mais intensa, se mostrando mais voluptuosa que sua “prima gêmea” (existe isso????) rainha da vizinha Rioja.
Outro detalhe, os hermanos daqui têm menos preconceito quanto às castas francesas do que os hermanos de lá, sabe onde né? e a Cabernet Sauvignon é cultivada sem medo de ser feliz, além do maior uso de carvalho novo e nobre diga-se de passagem, e o resultado aparece logo e pode ser visto ( e até bebido ) no Vega-Sicília, no Pesquera, no Pingus, e em outros vinhos mais fáceis, mas sem perda de qualidade!
- “Pálidos, corpo médio, quase magros, boa complexidade aromática, buquê rico em perfumes e aromas evoluídos, final longo e elegante............”
- “Escuros e carnudos, taninos potentes, fruta e sabor intensos, estruturados e concentrados........”
Qual descrição lhe dá mais água na boca, mais confiança no taco, maior desejo de beber?
Seja qual for sua escolha, você corre alto risco de estar bem servido de vinho, acontece que eu prefiro o segundo.
Será que eu tenho mesmo alguma diferença com a Rioja, continuo achando bobagem, parece mais intriga da oposição, pode acreditar......

“Nunc est bibendum”, salve o grande rio Duero/Douro
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: Viotti, Jancis, Amarante, André Domine,....

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"o gosto é semelhante à rudeza do entendimento"

A pesquisa sobre aeração e decantação, meu último “post”, me deu a oportunidade de voltar a ler Émile Peynaud, um estudioso sem tréguas e concessões

Peynaud se foi durante a reedição da sua obra “Le goût de vin” originalmente publicada em 1980, e é a esta primeira edição que eu agora peço socorro, mais precisamente ao prefácio onde o professor deixou seu recado para cada um dos elos que no seu entender representam a indústria do vinho, o produtor, o comerciante, o enólogo e o apreciador.
Peço licença para me fixar justamente em você “apreciador” e reproduzir aqui passados mais de 30 anos, a visão que julgo coerente sobre suas responsabilidades no mundo do vinho, que ao contrário do que você pode imaginar não é só simplesmente beber !!
Vejamos, você é o elo mais importante desta corrente, é você quem paga o vinho, você valiosíssimo bebedor, seja o habitual, o incondicional, o ocasional, ou como ele o professor preferia “o bebedor esclarecido”.
Acho bom repetir, “ você quem paga o vinho, você que dá vida à população vinícola”, pegou?
Se seu país tem tradição vinícola, então você pode se considerar um verdadeiro herdeiro da rica civilização do vinho.
Esquece os direitos neste momento, vamos nos concentrar nos deveres, o principal deles, “ você é representativo e responsável pela qualidade dos seus vinhos”, correto?
Em certo sentido é você que “faz” a qualidade de seus vinhos, se há maus vinhos significa que há maus bebedores, cada um bebe o vinho que merece, não fique bravo, sem ofensas, de acordo?
Então escolha beber melhor, só aceite pagar mais por um vinho que realmente seja superior, na esteira deste raciocínio você verá os vinhos de uma maneira geral se tornarem melhores.
Eu acho que é isso mais ou menos que vem ocorrendo com nossos vinhos brazucas, né não? Leva anos, precisa paciência..., vamos ter mais vinhos brasileiros nas prateleiras dos supermercados, escolha um de qualidade....
Cabe a você desestimular os produtores de maus vinhos, baita responsabilidade, aceita?
Sábio este professor Émile!

“Nunc est bibendum” – “ O gosto é semelhante à rudeza do entendimento - É. Peynaud
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref : “O gosto do vinho” – Émile Peynaud e Jacques Blouim



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DDD - Bacco nº9 - Decantar & Aerar ???

Dúvidas Devidamente Degustadas

“Decanters” e “Aeradores”, muitas opiniões uma só polêmica.

Carol minha amiga, não resisto às suas observações, sempre bem vindas por sinal, tá lembrada da Primitivo?, então vamos lá, vamos correr os riscos naturais de ir em frente com um assunto que todo mundo acha que conhece, é aí que mora o perigo!
Resolvi passar por cima de quase todos que em algum momento já “filosofaram” sobre a questão e fui direto pedir ajuda aos pesquisadores e professores Émile Peynaud e Jean Ribéreau – Gayon, ambos começaram seus estudos sobre o vinho em 1928 e seguiram juntos por 50 anos!
A garantia aqui é a do conhecimento pleno e da isenção
- Professor quando devemos abrir uma garrafa?
- Não faz a menor diferença abrir uma garrafa três horas antes de servir ou no último momento, nada acontece, física e quimicamente, em duas ou três horas nestas condições. A quantidade de oxigênio que penetra é mínima, muito menos de quando colocamos o vinho no copo, e menos ainda nos quinze minutos seguintes. Portanto só há uma maneira inteligente de abrir uma garrafa : imediatamente antes de ir à mesa ou de bebê-la”
-Professor, quando devemos usar um Decanter?
- No passado era indispensável sem dúvida, antes dos processos de clarificação serem dominados todos os vinhos criavam muito depósito “ no fundo da garrafa havia o que beber e comer!” Os tintos tingiam os copos com uma camada tânica aderente, os brancos apresentavam “flocos voadores”, estas garrafas não podiam ser servidas sem ser decantadas. O tempo passou mas o ritual da decantação se perpetuou!!
A formação de depósitos é natural nos tintos, sinal do envelhecimento da cor e da lenta floculação dos colóides. Portanto é normal que um vinho tinto quando tânico tenha depósitos a partir de 5 anos de garrafa, não sendo possível evitá-lo totalmente. Em contrapartida não é tolerável que haja depósito em um vinho tinto mais jovem ou um vinho branco.
Então 1ª regra “ Será decantada somente a garrafa que apresentar depósito, seja qual for a natureza deste depósito e a idade da garrafa, conseqüentemente, uma garrafa que não produziu depósito será servida diretamente.
Ponto pacífico, as coisas se complicam quando se fala sobre os efeitos da aeração, ou seja da pequena dissolução de oxigênio que sempre acompanha a decantação.
Para alguns a aeração sempre é favorável e necessária, dizem que o buquê dos vinhos velhos é liberado e se desenvolve no contato com o ar, decantam sempre com a intenção de aerar o vinho.
Para outros a aeração sempre é nociva, e que se for prolongada afetará a intensidade e a fineza do buquê
Opiniões tão estanques são difíceis de serem defendidas, quase sempre decorrem de observações fragmentadas e de generalizações algo precipitadas, são posições empíricas que misturam os fatores e ignoram as circunstâncias.......
“É um erro, sem dúvida, decantar os vinhos velhos várias horas antes do consumo, pois seu buquê, fruto de processos de redução realizados lentamente ao abrigo do ar desaparece ou se atenua mais ou menos rapidamente, conforme o vinho, depois de uma aeração mesmo que seja leve” – Traité d’oenologie, J.Ribereau-Gayon – É. Peynaud
.........vinhos excepcionais, os vinhos muito bons, de reserva, e os vinhos de variedades, perdem buquê, corpo, e personalidade ao serem decantados algumas horas antes, o vinho amolece e perde o caráter adquirido pelo envelhecimento. Em contrapartida, vinhos que apresentam alguns defeitos no nariz ou alguns gostos estranhos ficam melhores com uma aeração..................
........abertura e decantação uma ou duas horas antes servem apenas para dissipar os eventuais defeitos “ a aeração não se justifica para vinhos de qualidade”
Vamos a segunda 2ª regra “ Se for necessário decantar, isso deverá sempre ser feito no último momento, imediatamente antes de ir à mesa ou de servir, nunca com antecedência”
A 3ª regra nasce em conseqüência das duas primeiras e se aplica aos casos específicos
3ª Regra “Somente os vinhos que têm algum defeito a ser perdoado ( falta de nitidez olfativa, presença de gás, leve magreza, ...etc) justificam uma decantação antecipada com grande contato com o ar”
..........os decantadores-aeradores são perigos temerosos para vinhos finos. Na ausência de depósitos a decantação se torna simplesmente “passagem para a jarra de cristal”, o que está muito na moda.Um vinho modesto servido em um decanter sem rolha e rótulo, freqüentemente nos faz crer que se trata de um grande vinho!
"Nunc est bibendum”, vai decantar o vinho da foto irmão?
Até breve, Bacco a seu dispor
Ref : textos e foto “O Gosto do Vinho” – Émile Peynaud & Jacques Blouin.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho VIII

“A história do vinho confunde-se com a própria civilização, ao longo dos séculos o vinho tornou-se cada vez mais importante, colocando as pessoas em contato com o sagrado, curando moléstias, aliviando angustias, facilitando o congraçamento social e dando origem a negócios que alteraram a feição de regiões inteiras” – Hugh Johnson

Companheiros! vamos então retomar nossa trajetória sobre esta história....
Depois do Egito, capítulo VII ainda estão lembrados? e antes de praticarmos um pouco mais de democracia passeando pelo mundo grego, sem dúvida a base da viticultura que conhecemos hoje, com a ajuda dos colegas e dos universitários, vamos teorizar um pouco sobre a disseminação da cultura do vinho desde sua origem por volta de 5.000 a.C até a queda do Império Romano em 500 d.C, este um evento e tanto que nós vamos ver mais a frente.
Então como foi que esta cultura se espalhou e se instalou no mundo?
Pelo menos quatro fatores são citados por quem estuda o tema como fundamentais para que o vinho literalmente tomasse o Mediterrâneo e grande parte da Europa, onde hoje por sinal reina.

- “Network à moda antiga”, o conhecimento passava de uma cultura para outra, de um povo para outro, isso acontecia de várias maneiras, pacíficas ou não, naquela época em geral não!!
Nas regiões de climas favoráveis o vinho se desenvolvia como uma commodity, que era “exportado” para as regiões de climas menos propícios, que não plantavam mas consumiam a bebida com imenso prazer.
Exemplos? o trabalho grego na colonização do Egito em 300 a.C, e mais tarde no sul da Itália (Enotria), o avanço romano sobre as terras onde hoje estão França, Alemanha e Hungria...
- “Força das crenças religiosas”, em quase todas as culturas antigas havia a associação entre o vinho e as divindades, oferendas de vinho aos deuses eram comuns em todo o mundo antigo, estes deuses freqüentemente eram associados à uva e ao vinho. O vinho sempre teve papel importante em conceitos fundamentais como morte e ressurreição (o sangue de Cristo!)
- “Money, Money!!!”, em pouco tempo o vinho se tornou para muitos povos um produto agrícola importante e principalmente rentável
Onde tinha “status” de artigo de luxo o vinho era vendido em pequenas quantidades mas a valores muito altos ( ainda hoje é assim não é não?), nos demais lugares se tornou vital para as economias regionais. Em muitas regiões das atuais França, Espanha, e Itália, a produção vinícola foi fundamental para o desenvolvimento e a prosperidade econômica de longo prazo.
- “Lei da oferta e demanda” com o tempo surgiram os mercados representativos das culturas vinícolas, com eles nasciam as leis da demanda e da oferta como as conhecemos hoje!, o vinho ultrapassou as fronteiras da religião e assumiu seu papel na sociedade mundana aquela do prazer pelo consumo, conhece?
Eu acho que podemos aceitar que o importante papel que a industria do vinho exerce hoje nas economias e na cultura dos países produtores se deve à força destes quatro verdadeiros pilares de uma história tão antiga como rica.
“Nunc est bibendum”, Bacco voltará menos sério....
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: Hugh Johnson (foto), Pintura bávara de 1500, relaciona vinho, sangue da uva e sangue de cristo...,Rod Philips.





domingo, 7 de outubro de 2012

Bordeaux na Espanha???

Depois de algum tempo envolvido (literalmente) com o WSET, já era hora de voltar para a Espanha, e já que estamos aqui, vamos até a Rioja, as três Alta, Baja, e Alavesa.

Atrás de cada grande região vinícola há sempre um grande rio, neste caso estamos falando do Ebro, é ele quem determina o ritmo das coisas por lá. A cidade de Logroño é a maior da região, mas Haro é o centro vinícola da Rioja.
Dando uma passadinha por lá, experimente um leitão desmamado acompanhado de um Rioja tradicional.
Em ordem de importância muitos consideram a Rioja como sendo a Bordeaux da Espanha, até pode ser, foi a primeira Denominação de Origem da Espanha, (1926) e também a primeira Denominação de Origem Qualificada (1991), parabéns para a Rioja, é também como Bordeaux, uma região de tintos (85%), embora também haja brancos, e sua uva símbolo, presente em 80% dos tintos é a Tempranillo, e para mim é aí que mora o perigo.....
Não acho que o potencial de uma Tempranillo esteja no mesmo nível de uma Cabernet Sauvignon ou mesmo de uma Merlot, o que certamente exige muito mais do produtor em todo o processo de elaboração do vinho para que o mesmo possa ser classificado ( e reconhecido) como um grande Rioja.
De uma maneira geral um tradicional Rioja, honesto, de bom preço, e de boa qualidade, é um vinho meio que “ralinho” e pode decepcionar, principalmente para os padrões do Novo Mundo.
Um Gran Reserva pode apresentar boa complexidade, e aquela textura aveludada, mas para isso teve que viver 24 meses dentro de uma barrica, outros 36 dentro de uma garrafa, e só sai de casa depois destes 60 meses, quando já se sente um adulto!
Nestes casos a Tempranillo cumpre o seu papel contribuindo para a elegância do vinho, mas ainda assim precisa de ajuda, da Garnacha (álcool e corpo ), da Mazuelo (cor, tanino, acidez ) e da Graciano (perfume).
Dizem as más línguas que por baixo dos panos, até a Cabernet Sauvignon dá seu ar das graças, sempre discreta pois não é aceita na Rioja.
Muitos acham que a melhor chance da Tempranillo honrar a fama de “rainha da Espanha” está na vizinha Ribeira Del Duero e não na aclamada Rioja, acho que eu concordo com isso....Vega, Pesquera....que tal?
O fato é que segundo Jancis Robinson hoje em dia a região sofre com a incerteza sobre o estilo dos seus vinhos, o Rioja, o vinho mais importante e mais famoso da Espanha ironicamente entra no séc. XXI buscando seu verdadeiro caráter.
Para quem sempre teve que lidar com as condições marginais do seu clima e portanto apto a enfrentar dificuldades de toda sorte, a chance de sucesso é grande, a nós simples mortais só nos resta torcer.... e beber, já que é bebendo que se aprende e se aprova.
“Nunc est bibendum”, um Rioja por favor
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref : Viotti (foto), Jancis, Amarante, Hugh....



O que é single malt?

Epa?, single o que?, E aí Bacco bebeu irmão???????

Devagar companheiro, não é bem assim, acontece que durante o curso nós temos um capítulo sobre “spirits”, o “S” do WSET pegou? E aí bateu aquela vontade de falar um pouco sobre um velho parceiro de uma época que já passou.
Spirits são destilados, de fruta (cognac) de cana (cachaça, run) de grãos (vodka, gin ), e assim por diante, sem entrar em maiores detalhes....
Sem dúvida alguma o mais conhecido, mais complexo, mais famoso “grain spirit! é o nosso velho conhecido “Whisky”
Sim, nosso velho conhecido sim, não conheço um “enófilo entusiasmado”, um fino e educado “apreciador de bons vinhos”, até um “expert em vinhos” que naquele momento (raro) de mais intimidade não fale com saudades daquele bom e velho whisky
Acho até que alguns por uma razão ou outra, idade, pressão da sociedade por menos álcool, ou qualquer outra coisa parecida, acabaram se transformando em “bebedores enrustidos de whisky”.
Eu confesso que hoje aos 60 raramente dou minhas talagadas, reservo estes momentos para ocasiões especiais como o encontro com velhos amigos do passado por exemplo....(abraço Celinho, grande Douglas), amigos estes que também podemos dizer, hoje em dia estão algo assim como mais “conservadores” em relação ao velho destilado (spirit), dá para entender?
Depois do curso, refletindo um pouco sobre as diferenças de perfil entre os “novos apreciadores de vinhos” dos “antigos amigos do whisky” percebo que ( com rara exceções ) estes últimos não tinham um décimo da preocupação que os primeiros têm sobre conhecimentos básicos em relação à sua bebida favorita. Será uma questão de faixa etária?
Hoje em dia parece que todo mundo entende um pouco de vinho, ou pelo menos gostaria de, não acho que seja assim com o whisky.
Com base nesta particular constatação, ainda que possa ser limitada para alguns, deixo aqui minha singela contribuição sobre os destilados, whisky em especial.

- whisky é produzido à partir de cereais em grãos que ao contrário das uvas têm grande quantidade de amido insolúvel que durante o processo precisam se tornar solúveis
- este processo é conhecido como “malting” , ok? olha o malt aí!
- na Escócia são elaborados dois tipos de whisky, o “malt whisky” só de cevada maltada destilado em alambiques, e o “grain whisky” de cevada maltada e de outros grãos, destilado em destiladores contínuos.
- é difícil encontrar um “malt whisky” com menos de 10 anos, mesmo que não venha especificado no rótulo
- os “Single Whiskies” são na verdade produtos de uma mesma destilaria, é essa a definição correta. Os Single Grain Whiskies são raros, os Single Malt Whiskies são maioria entre os whiskies de alta qualidade
- Os Single Malt são mesclas de whiskies de várias idades, mas todos procedentes da mesma destilaria!! A idade do rótulo é a do whisky mais jovem da mescla
- O Blended Whisky é um produto de 2 ou mais destilarias, ok?
- Há 3 tipos, Blended Malt Whisky, Blended Grain Whisky, e Blended Scotch Whisky, uma mistura dos dois primeiros.
- O Blended Scotch Whisky representa a grande maioria dos whiskies vendidos no mercado, ao pedir um “scotch” se não for paraguaio é este que você vai beber, geralmente uma mistura de malt e grain.
Bacco e o Bourbon?, calma amigo este é um outro capítulo, fica para outra oportunidade
“Nunc est bibendum”, um scotch please............
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref : WSET- Wines & Spirits – Understanding Style and Quality

sábado, 29 de setembro de 2012

Sobrevivi!

Setenta e oito vinhos degustados, nosso “Master of Wine” Dirceu Vianna Jr. no seu cangote o tempo todo, e uma “provinha” no final, não é pouco pode acreditar, mas enfim para felicidade geral da nação, sobrevivi!Bacco está de volta.

Hoje em dia são muitas as oportunidades de se aprender um pouco mais sobre vinho, e isso é super positivo, democratiza o conhecimento e derruba mitos. Recomendo.
O “Wine&Spirits Education Trust” faz parte dos cursos do primeiro escalão, uma satisfação imensa com a oportunidade de aportar conhecimento de valor sobre algo que te interessa em muitos sentidos.
Vinho vai além de “estudo” e “litragem” é também cultura, tradição, história, geografia, e relacionamento interpessoal, a semana na The Wine School foi repleta disso tudo.
Um grande abraço aos amigos do curso, parabéns a todos pela excelente semana.........
“Nunc est bibendum”, obrigado Dirceu
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: WSET3 – “Explorando el mundo de los vinos y espirituosos”



domingo, 16 de setembro de 2012

O silêncio do blogueiro


Peço desculpas aos amigos e amigas que fazem o sacrifício de acompanhar Bacco em seu papinho rotineiro.O silêncio forçado se deve à necessidade total de concentração na preparação para o WSET3!( Wine & Spirit Education Trust).
O curso da The Wine School “La Cualificación Superior Internacional en Vinos y Espirituosos” exige todo cuidado e o máximo de dedicação e estudo.
Volto na próxima semana, de preferência aprovado...
Um abraço a todos e até lá.

“Nunc est bibendum”, que ninguém é de ferro.....
Até breve, Bacco a seu dispor



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Scala Dei" (Escada de Deus).......Priorat!!!




Como já confessei aqui eu não sou a melhor pessoa para julgar, classificar, o que mais seja, os modernos vinhos espanhóis, me falta conhecimento, me falta “litragem”, mas mesmo assim eu faço uma aposta, a Catalunha de espírito livre, orgulho de cada catalão existente, se ainda não é ( não sei não!!), será em muito breve a região vinícola mais importante da Espanha, com Priorato e Penedès na linha de frente. Alguém quer contestar?







O Priorato, região que tinha mais habitante no tempo dos romanos do que atualmente, uma das mais influentes regiões agrícolas da era medieval, acabou esquecida por séculos, e agora está de volta!
Esta região catalã tem seu nome ligado à criação da ordem religiosa “Scala Dei” ( Escada de Deus) em 1163, um latifúndio feudal pertencente ao Prior, monge e mestre da ordem, daí o nome Priorato.
Com um terroir único, protegido por um anel de montanhas, verões quentes e invernos rigorosos, solo de ardósia ( licorella), um conjunto que proporciona entre outros fatores de qualidade, baixos rendimentos, e maturação lenta e completa das uvas, acaba por oferecer aos vinhos aí produzidos a oportunidade de se mostrarem de grande profundidade e intensidade com riqueza de aromas e sabores, e apesar dos 14% a 15% de álcool, este quase nunca é um intruso.
Quem melhor se aproveita disso tudo é a Garnacha/Grenache, sempre coadjuvante no resto da Espanha, aqui ela manda e desmanda, é a protagonista mas não egoísta, cede espaço para a Cariñena/Carignan e até para as francesas Cabernet e Syrah.
Os “cinco mosqueteiros” do Priorat, liderados por René Barbier – Clos Mogador, costumam ser responsabilizados pelo renascimento da região,( década de 80) com ele vieram os amigos Alvaro Palácios – Clos L’Ermita, Carlos Pastrana – Clos de L’Obac, José Luis Peres – Clos Martinet e Daphne Glorian – Clos Erasmus.
Os vinhos destes pioneiros senhores vejam só, hoje são considerados entre os melhores da Espanha e já não são mais para simples mortais ($$$$).
Portanto, acredite em mim, não perca tempo, preste mais atenção na Espanha, vá atrás dos vinhos do Priorato, os modernos, enquanto ainda é possível pagar por eles um valor decente para um vinho de qualidade....

“Nunc est bibendum”,siga a Escada de Deus
Até breve, Bacco a seu dispor

Thanks : Jancis, Johnson, Viotti, Lucki, André Dominé, Grande Larousse…..foto: Montserrat-Catalunha



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sherry...Xerez,Jerez, viva a Andaluzia!!


“Sonhar o sonho impossível
Sofrer a angustia implacável
Pisar onde os bravos não ousam
Reparar o mal irreparável
Amar um amor casto à distância
Enfrentar o inimigo invencível
Tentar quando as forças se esvaem
Alcançar a estrela inatingível
Essa é a minha busca”

Dom Quixote de La Mancha




O clássico de Miguel de Cervantes y Saavedra ( 1547- 1616) foi ambientado na região de La Mancha mas bem que poderia ser na Andaluzia, na minha visão os versos do cavalheiro andante refletem a obstinação e a dedicação do produtor andaluz na sua luta para manter vivo o Jerez, um vinho de mais de 2 mil anos!!!
“Aceitunas, anchoas, morrón, jamón serrano, y una copita de Fino Seco”, uma mesa com “Tapas e Jerez”, um hábito cada vez mais distante até para próprios espanhóis. ( nada há ver com a crise atual )
Os ingleses adoram ( ou adoravam ) um Jerez, ou melhor um Sherry como eles preferem chamar, e estão diretamente ligados às origens destes vinhos fortificados ( + alcoólicos)
No eterno morde e assopra entre ingleses e franceses, os primeiros foram buscar fontes alternativas aos claretes de Bordeaux para continuar desfrutando de bons goles ( e que goles!) e acabaram se encantando com os fortificados de Portugal (Porto) e Espanha ( Jerez).
Aromas de nozes e amêndoas, um pouco de menta e ervas frescas, envolto em um ar marinho com toques de salinidade, certamente um inglês declamando para sua amada taça de um Jerez Fino Seco minutos antes de degustá-lo até o ultimo gole....
Há muitos tipos de vinhos de Jerez, o Fino ( Jerez de la Frontera) e o Manzanilla ( Sanlúcar de Barrameda) são mais secos e leves, e sua “crianza” depende enormemente da formação da “flor” um manto de leveduras que protege o vinho da oxidação pelo oxigênio.
Quando por inúmeras razões o véu de leveduras não se forma, o vinho oxida dentro do tonel, muda de cor, de aroma de gosto, nasce o Jerez Oloroso !
As uvas são sempre brancas, e predominantemente a Palomino, uma cepa que não teria razão de ser se não fosse para gerar os Jerez, uma obra de arte dos artesãos espanhóis
Quando estes utilizam a Pedro Ximenez (PX) o resultado é diferente, talvez o vinho mais doce que existe, uma multiplicidade de aromas e sabores, figos secos, alcaçuz,caramelo queimado, uvas passas, ameixa-preta....., uma combinação perfeita para um creme inglês, ou um manjar branco!!!
E a “crianza” destes vinhos então, todo Jerez obedece ao sistema de Solera para amadurecer antes de ser engarrafado, uma pilha de tonéis, o “solera” na base junto ao chão e as linhas de “criadeiras” uma por cima da outra, o vinho pronto que você vai beber sai da solera, só um pouco, o resto continua lá, o espaço então é completado pelo vinho da primeira linha de criadeira, e esta recebe a mesma quantidade da segunda, que por sua vez recebe da terceira, ....o movimento de “doar” e “receber” na mesma proporção pode se estender por inúmeras linhas de criadeiras ( 14!), um sistema que aumenta muito a idade média do vinho em todo o sistema, e garante a manutenção do estilo a cada ano em que uma parte dele é engarrafado e oferecido à você, não se acanhe então, vai lá, experimente, compre um, quem sabe você não se torna um admirador do Jerez, bem que ele precisa........
A grande ironia disso tudo é a seguinte, justamente o álcool extra dos generosos e fortificados, usado para preservar os vinhos por mais tempo, aumentando as possibilidades de chegarem até os exigentes ingleses em boas condições, é hoje o maior obstáculo para o crescimento e até a sobrevivência destes vinhos.
Ao contrário dos antigos bebedores, o apreciador dos dias de hoje tem consciência sobre a necessidade de consumir pouco álcool, preferindo optar por vinhos tranqüilos com menor teor alcoólico.
O Douro terra dos Portos tem a alternativa da produção de Tintos Tranqüilos de ótima qualidade, o clima ajuda, já não é bem o caso da tórrida Andaluzia onde as uvas literalmente “cozinham no pé”
O Jerez é o grande vinho da Andaluzia, quem sabe ainda até da Espanha, mas ao que parece o desenvolvimento do vinho neste país parece seguir outra direção.....rumo ao norte, mais um desafio para o andaluz, com a inspiração de Dom Quixote ele acredita que vai vencer mais uma vez................

“Nunc est bibendum”, ..”alcançar a estrela inatingível, esta é a minha busca”, Dom Quixote
Até breve, Bacco a seu dispor

Thanks, Viotti, Jancis, Johnson, Dominé, Larousse.....foto: Coleção Folha-O mundo do Vinho





domingo, 19 de agosto de 2012

Qual é a cara do vinho espanhol???

Sempre que o assunto é vinho europeu, qualquer que seja o tema, minha impressão é de que com a França na liderança, Itália e Espanha correm por fora para saber quem tem o privilégio de ser vice.


Não sei, ainda acho que a Itália segue firme na segunda posição, mais atenta com a liderança dos franceses do que com a concorrência dos espanhóis, sei não, sei não....
Hoje em dia, quase tudo o que se fala ( e se bebe ) sobre o atual vinho espanhol é no mínimo positivo.
Segundo Hugh Johnson, a Espanha vinícola vem se reinventando, e de produtor de vinhos anônimos até meados de 70, hoje já alcança credibilidade no mercado e apresenta vinhos de qualidade, usando e abusando das suas castas nativas, das novas tecnologias disponíveis, e das quebras de determinados paradigmas.
Ainda segundo Hugh a retomada do “sentimento de identidade regional” ( era pós Franco ) responde por este novo cenário.
Acho que faz todo sentido em um país de “autonomias marcantes”, País Basco, Catalunha, Galícia, ...Andaluzia.
A diversidade de cepas autóctones não é tão significativa quanto na Itália, mas tem lá seu peso e significado na personalidade do atual vinho espanhol, Albariño, Cariñena, Airén (+ plantada na Espanha), Mencía, Graciano, Viura, Verdejo, Macabeo, Palomino, Pedro Ximenez, e naturalmente a Tempranillo!
O diversificado clima espanhol é outro fator preponderante no estilo dos vinhos de cada região, o Oeste sofre a influência do Atlântico, as zonas Central e Setentrional têm um clima mais Continental com verões quentes e invernos frios, já a costa da Catalunha desfruta de um clima Mediterrâneo....
O tal do rendimento hl/ha ( hectolitros por hectare) por aqui é baixíssimo, 25 contra 70 na França por exemplo, os motivos são entre outros, cepas muito velhas, o clima rude, tornando a vida da uva difícil, a regulamentação,..etc, na maioria das vezes este baixo rendimento é benéfico para a qualidade final do vinho, ponto para a Espanha!
Por falar em regulamentação, segue firme na cultura enológica espanhola a visão de que não faz sentido vender vinhos que não estejam prontos para o consumo, a responsabilidade de cuidar dos vinhos até sua maturidade é do produtor.
O resultado desta premissa é que a classificação de Gran Reservas, Reservas, Crianzas e Jovens é para valer, não havendo espaços para abusos, improvisações ou modismos, ponto para a Espanha!
Um Gran Reserva tinto estagia por 60 meses antes de ser colocado no mercado, 18 em barricas e o restante na garrafa e ponto final, não se discute mais.
Os vinhos Jovens são os únicos “sin crianza” ( sem amadurecimento), o que não significa má qualidade, apenas leveza e indicação para um consumo rápido após sua elaboração.
Por essas e outras, dizer que o vinho espanhol é sinônimo de Rioja ( muitos ainda acham isso), é no mínimo uma simplificação perigosa, beirando a ingenuidade...

“Nunc est bibendum”, salve Toro, Rias Baixas, Priorato, Penedés, Ribeira Del Duero......
Até breve, Bacco a seu dispor......

Thanks: Viotti, Johnson, Grande Larousse....





segunda-feira, 30 de julho de 2012

Espanha, Olé...!!!

“Um militar espanhol com suposta participação na destruição de Guernica diante do famoso quadro teria perguntado a Picasso, foi você que fez isso? Não foi o senhor respondeu o pintor”

A Espanha está entre os 3 maiores produtores de vinho do mundo, é o segundo maior exportador só atrás da França,tem uma história vinícola riquíssima, repleta de simbologias e tradições que perduram até os dias de hoje, mas pelo menos no meu íntimo vive um paradoxo.
Pergunte a um simples mortal apreciador de bons vinhos qual o melhor vinho da Espanha, e ele logo dirá, Vega Sicília é claro, e o segundo? hum..... pera aí,........não sei não me lembro!
É claro que eu não estou dizendo que a Espanha é um país de um vinho só, um absurdo, a realidade é outra bem diferente, mas que a dificuldade existe ela existe , ...pelo menos na minha mente......., e na sua não ? pois então a partir de agora vamos tentar superar isso definitivamente, sem medo de ser feliz, sem muito sofrimento e de preferência na presença de bons vinhos espanhóis.
A Espanha é um país em que para qualquer direção que se olhe o que se vê é uma imagem muito forte , toureiros e touradas, flamengo e castanholas, separatismo basco, línguas e dialetos em profusão, paella!!, e mais, Cervantes, Gaudí, Picasso e Miró, Dalí e Buñuel, Almodóvar e Garcia Lorca, Plácido Domingo e Carreras............... o Barça, Alonso, Nadal, ufa !!!!
No mundo do vinho não é muito diferente, o terceiro maior país da Europa em extensão tem vinhedos plantados por todo seu território, é a nação com a maior área de vinhedos do globo, são 1,16 milhão de hectares de vinhas!!!
Razão mais do que suficiente para termos vinhas desde em semi desertos áridos e quentes até regiões frias e úmidas, e por conseqüência uma grande diversidade de estilos
Vamos atrás destes vinhos, região por região, contando com a ajuda dos universitários, até breve então

“Nunc est bibendum”, nos vemos na Rioja......
Até breve, Bacco a seu dispor...............

Ref : Viotti, Amarante, Jancis, Hugh, José Ivan Santos,....