sexta-feira, 29 de junho de 2012

Rapidinha - Dá vontade de chorar...($$)

“Não é novidade para ninguém, mas um desabafo de tanto em tanto ajuda no controle do colesterol.......... lá vai então”

 Leitura de ontem do “Shanken News Daily” ( Wine Spectator)....
“ A gigante chilena Concha y Toro lançou em Março uma nova coleção de vinhos nos USA (Riverbank Series), denominada “Gran Reserva Serie Riberas", um conjunto de 6 varietais cultivados com carinho às margens dos rios Rapel, Cachapoal, Tinguririca e Maule.
A série com preços de $15 pretende ocupar o nicho de mercado existente entre o campeão de vendas Casillero del Diablo ($10) e o muito apreciado Marques de Casa Concha ($22).”
Fico só olhando para estes valores, imaginando que os USA não são nenhuma referência de baixos preços, enquanto por aqui poucos conseguem explicar a proposta do vinho, mas sabem precificar muito bem ( R$ 60), é um sofrimento só, dá uma imensa vontade de chorar............................

“Nunc est bibendum” – Quem disse que é só a videira que tem que sofrer? (vide foto)
Até breve, Bacco a seu dispor.

domingo, 24 de junho de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho IV


Tem por fruto rubis,
Carregada de cachos que encantam o olhar,
De lápis-lazúli são seus galhos.
Deita frutos à vista desejáveis[...]

“Hipótese de Noé” – A origem do vinho limitada a um só lugar.....pouco provável.
Noé, filho de Lameque, Matusalém, Enoque, Jaled, Malalel, Cainan, Enos, Sete, Adão.....DEUS!
Uma linhagem mais do que nobre sem dúvida alguma, segundo o Gênesis, Noé o servo eleito do Senhor teria sido o primeiro agricultor a cultivar uva, ponto para a origem do vinho!
Passado o Dilúvio, quando as águas baixaram, sua mais do que famosa Arca atracou no Monte Ararat, depois de desembarcar a bicharada, Noé começou o cultivo da terra e plantou a vinha!
Quem disse que as lendas não estão aí para você acreditar nelas, aproveite mais esta.
Antigo Testamento, Capítulo 9º do Gênesis, “ E tendo bebido vinho embriagou-se e apareceu nu em sua tenda. E Cam,tendo visto a nudez de seu pai, saiu fora a dizê-lo a seus dois irmãos”
A Bíblia trata este episódio de muitas maneiras, todas de forma desproporcional e com certo exagero.
“ Noé amaldiçoou seu próprio filho Cam e o condenou a gerar a parte inferior da raça humana, os Cananeus”
“ A embriaguez de Noé constituiu a “Segunda Queda do Homem” após a desgraça de Adão a “Primeira Queda””,...logo o servo eleito do senhor, viria a sucumbir à primeira tentação, seu próprio vinho, ninguém é perfeito neste mundo!
Alguns afirmam que Noé foi vítima do desconhecimento dos efeitos do álcool, sei não!
Sua transgressão, se você assim entende a lambança de Noé, está lá, imortalizada por Michelangelo, no teto da Capela Sistina.
Vejo apenas como uma embriaguez supervalorizada, a primeira de muitas que seriam lembradas no curso da história do vinho até os dias de hoje, você se lembra da sua companheiro?
Dando uma folga para a Teologia, é interessante observar que a Bíblia de alguma forma contribui para a tese de que o vinho realmente teria nascido na região do Cáucaso, o Monte Ararat fica próximo às montanhas Tauros, a leste da Turquia onde certamente cresciam videiras silvestres e o vinho deveria ser produzido.
Então não se fala mais nisso, quando Ciência e Religião estão de acordo, e nem sempre é assim, quem somos nós simples mortais apreciadores de um bom vinho para duvidar da sua origem. correto? Feito, vamos em frente.
‘Nunc est bibendum”, salve Noé.
Até breve, Bacco a seu dispor....

Ref : Hugh Johnson(ilustração, poema), Rod Philips.- foto "Iluminura do séc.XV"

domingo, 17 de junho de 2012

No rastro da sustentabilidade......



Não sei se eu saberia avaliar corretamente a preocupação e o nível de engajamento dos produtores de vinho quando comparado com outras culturas, mas me considero um otimista quanto ao estágio atual e seu futuro.

Na viticultura de hoje podemos dizer que um enófilo mais atento consegue perceber que boa parte dos produtores apregoa e associa seu futuro a práticas mais sustentáveis, e a um maior respeito com o ecossistema em que ele está inserido. Maravilha!
Então, que tal no embalo das atuais intensas discussões sobre preservação ambiental, nós apreciadores e consumidores de vinho entendermos melhor os diversos conceitos de agricultura, topa?
Agricultura Convencional : acho que ainda é a que estamos mais acostumados a ver, com base em princípios técnicos e científicos se utiliza de recursos não naturais para seu desenvolvimento, tais como produtos químicos e defensivos sintéticos. Precisa ser alterada....
Agricultura Sustentável : Apesar de apresentar um razoável grau de preocupação com a preservação do ambiente, o termo está mais ligado à prática da rotação de culturas em detrimento da monocultura, esta definição pouco se aplica ao cultivo de uvas viníferas.
Agricultura Orgânica: Uma prática em evolução no meio vinícola, não emprega agrotóxicos e tampouco conservantes e aditivos, possui regulação bem definida com regras claras de certificação, o que é ótimo para o consumidor. Chile e Argentina com um “terroir” naturalmente mais protegido contra pragas são exemplos claros desta evolução, a úmida Serra Gaúcha com uma tendência fúngica muito alta já não consegue apresentar perfil semelhante, infelizmente. Praticamente em todos países com tradição do vinho, inúmeros produtores seguem na direção da preservação ambiental.
No futuro o vinho só deveria ser produzido onde fosse possível a implementação dos valores e conceitos da agricultura orgânica.
A prática orgânica além do meio ambiente, busca valorizar também a saúde do ser humano e o respeito com o agricultor, ponto para ela!
Agricultura Biodinâmica: Praticamente uma filosofia de vida transportada para o campo, respeito pelas relações (dinâmica) entre os diversos seres vivos (bio) presentes no ambiente onde ela se desenvolve, agregando as influências cósmicas ao dia a dia das atividades. O produtor biodinâmico acredita ser possível manter o equilíbrio do seu ecossistema de forma natural e também na influência dos corpos celestes ao longo dos diversos períodos do ano. Ele enxerga sua propriedade como um organismo totalmente integrado, sem a necessidade de entrada de recursos ou insumos de fora de seus domínios, a essência da filosofia, o equilíbrio das energias terrestres e cósmicas.
A visão holística da biodinâmica se baseia na Antroposofia do grego “sabedoria humana”, definida pelo seu criador o austríaco Rudof Steiner como “método que amplia conhecimento da natureza do ser humano e do universo em relação ao obtido pelo método científico convencional”
Minha experiência pessoal em visita à uma vinícola onde se pratica a biodinâmica ( Emiliana ) foi de um prazer só, a calma, quietude e leveza do ar era indescritível, você é tomado por uma paz interior única, você não sente o tempo passar........ e o vinhos degustados eram ótimos também (Coyam, Gê,...).
É isso companheiro, acho que todos nós devemos torcer, cobrar até, e se possível, colaborar para uma viticultura mundial baseada nos conceitos naturais orgânicos e biodinâmicos, o planeta agradece.

“Nunc est bibendum”, aproveitando meu momento “zen”,um vinho orgânico por favor.
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: Larousse do Vinho



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Vinho+20

"Iniciativas gigantescas como a que está por acontecer no Rio são fundamentais para a sobrevivência do planeta, nossas pequenas e particulares atitudes neste sentido têm proporcionalmente o mesmo significado."

Vinte anos depois do encontro de 92, o mundo se reúne
novamente para mais uma rodada de discussão sobre o futuro do planeta, a Rio +20. (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável)
Segundo especialistas a conscientização global sobre a importância da sustentabilidade aumentou desde 1992, mas os problemas permaneceram onde estavam, com o agravante que antes éramos 5,5 bilhões, hoje somos 7,0 bilhões pressionando (abusando dos..) os recursos naturais.
Entre estes recursos naturais, a Água tem luz própria, é considerado um recurso finito, só 1% está disponível para consumo humano na forma de água doce, os outros 99% são de água salgada dos mares ou congelada dos pólos.
A conclusão óbvia é que o uso sustentável da água está diretamente relacionado com a sobrevivência humana.
Poluição, aumento da demanda, e desperdício são os principais desafios, a atividade que mais consome (e desperdiça) água no planeta é a agricultura.
Uma oportunidade para nós refletirmos sobre um antigo hábito de produtores de vinhos do Novo Mundo, de irrigarem seus vinhedos pelo método da inundação, com muito pouco ou quase nenhum controle sobre o desperdício de água gerado pela iniciativa.
Em muitos países a irrigação artificial é proibida, vista como incompatível com a qualidade do produto final, ok Chile e Argentina precisam dela, chove pouco por lá, mas já temos tecnologia para isso, o sistema de gotejamento controlado, ou seja o estritamente necessário, sem perdas e desperdício, então !!
Seria legal ver mencionado no contra-rótulo dos nossos tão queridos e apreciados vinhos chilenos e argentinos “irrigação controlada”, você não iria dar sua contribuição escolhendo um destes?
O encontro Rio+20 tem a pretensão de discutir planos e metas para a promoção do desenvolvimento sustentável, baseando-se em 3 pilares, o econômico, o social , e o ambiental.
Opa! mais uma oportunidade para reflexão, agora mais do que nunca a prática do cultivo orgânico e do biodinâmico deveria receber máxima atenção de todos, inclusive consumidores finais como nós.
Uma economia mais verde, que respeita os limites naturais do planeta e mais oportunidade de trabalho, não me parece pouco.
O uso restrito ou nulo (ideal) de agrotóxicos sintéticos e outros produtos químicos daria uma grande contribuição para o ecossistema e por consequência para a nossa qualidade de vida.
Já sabemos que a difusão destes métodos de cultivo tem dado excelentes resultados em relação à qualidade do vinho, sem a pressão do imediatismo tão comum nos dias de hoje, não há porque não ser adotado então.
Alguns grandes e renomados produtores já adotam estas práticas, mas preferem ser discretos, uns por princípios, não deviam, outros com receio de reações negativas do mercado, dá para entender? Faça a sua parte amigo.....

“Nunc est bibendum”, sucesso para o Vinho +20
Até breve, Bacco a seu dispor.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho III

Vinho e Civilização

O desejo do homem do neolítico de cultivar alimentos, incluindo uvas para produzir vinho, foi um forte incentivo para o estabelecimento de sociedades sedentárias, e por extensão da civilização como hoje a conhecemos.
É na transição do nômade para o sedentário, quando o homem trocou a caça pela criação, trocou o hábito de só colher para o de também cultivar, que se encontra a raiz do valor da bebida.
A necessidade de cuidados o ano inteiro fez da videira fator preponderante para a fixação do homem à terra.
Quando do surgimento das primeiras cidades, isto aconteceu em regiões produtoras de cereais e não de vinhas, a grande maioria das pessoas tomava cerveja, mais abundante, mais comum, o vinho era para poucos, estabelecia-se aí a imagem de bebida de privilegiados, reforçada pelos egípcios e só abrandada mais tarde pela “mania” de democracia dos gregos, grandes incentivadores da cultura vinícola.
O vinho em geral era mais valorizado do que a cerveja, porque se conservava por mais tempo, porque às vezes até melhorava com o tempo, (e acredito porque principalmente era mais forte!).
Certas propriedades do vinho foram mais importantes para nossos ancestrais do que para nós,durante dois milênios de história médica e cirúrgica o vinho foi o anti-séptico universal e único, com ele se lavava os ferimentos, com ele se tornava a água potável.
É fato que os antigos nunca duvidaram da benevolência do vinho, da sua capacidade de facilitar as conversas e a interação social e principalmente do seu caráter divino, este último o principal pilar da sua complexa história.

“Nunc est bibendum”, benção Dionísio, benção Baco
Até breve, Bacco a seu dispor................

Thanks : Hugh Johnson, Rod Philips....foto " As divinas propriedades do vinho, mural da Vila dos Mistérios, Pompéia.