quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Uma Saga Brasileira - Mil vezes Merlot!


“O espírito é variável como o vento....
Mais coerente é o corpo, e mais discreto......
Mudaste muitas vezes de pensamento......
Mas nunca de teu vinho predileto....”
(Álvares de Azevedo,escritor – 1831- 1852)


Não são poucas as vozes especialistas que elogiam o espumante brasileiro, e ele é bom mesmo. (esqueçam o Prosecco por favor.)É aquela questão do tal de “terroir”, o produtor atento observa que uva, solo e clima se entendem bem, se aproveita de todas as maneiras desta harmonia e elabora um vinho de qualidade.
É mais ou menos assim em qualquer parte do mundo, parece simples mas não é não.
Tem muita gente também que diz , por isso ou por aquilo, que a vocação do Brasil é o vinho branco.
Bem, como diria um velho conhecido “há controvérsias”
O fato é que nosso vinho branco continua sendo um desconhecido e está muito longe do reconhecimento que o espumante já alcançou, aqui e lá fora.
Outra questão é a seguinte, em qualquer pesquisa que se faça sobre preferências, 80% no mínimo afirmam que preferem o vinho tinto !?
Tem mais, o espumante por melhor que seja, continua sendo uma bebida digamos assim, “temática”, com forte vocação para marcar presença em celebrações, e o vinho branco continua sendo uma bebida de poucos apreciadores, em qualquer lugar do mundo
O que fazer então? simples : vinho tinto de qualidade!
E aí de novo, aquelas mesmas vozes especialistas lá do início, dizem que a uva de melhor comportamento lá pelas bandas do sul é a Merlot.
Que dela resultam vinhos macios, aveludados, frutados, com taninos educados, de média acidez, final elegante, gastronômicos, tudo de bom...
E para comprovar esta tese, basta prestar um pouco de atenção a qualquer degustação, premiação, o que seja, de “melhores tintos nacionais”, 9 entre 10 ou são elaborados com uma mistura de uvas onde a Merlot tem participação relevante no resultado final, ou são mesmo varietais de Merlot.
O que será que estamos esperando para transformar a Merlot na casta emblemática do Brasil? Assim como o Chile fez com a Carmènére, a Argentina com a Malbec, o Uruguai com a Tannat, e em menor proporção mas não menos evidente, a Austrália com a Shiraz, a Nova Zelândia com a Sauvignon Blanc, e a África do Sul com a Pinotage. Todos exemplos de sucesso de marketing e mais importante, de vendas, pode conferir.
Todos eles assim como nós, também produzem seus “vinhos de corte”, eu até diria que é uma tendência em detrimento do mono-varietal, mas quase nunca se esquecem de dar um espaço importante na mistura para sua uva ícone.
Até mesmo entre os europeus, mais acostumados com a origem do vinho do que a casta em si, temos Portugal discutindo se faz o mesmo com a sua Touriga Nacional.
Tempranillo lembra o que?, Espanha, certo parabéns e Riesling, Alemanha, certo muito bem outra vez, então quem gosta de Tempranillo compra o quê, vinho espanhol, e quem gosta de Riesling, vinho alemão, legal né?
E olha que a Merlot está dando sopa, os USA depois de Sideways a trocaram pela Pinot Noir, o Chile aos poucos vem aceitando que seu terroir não é o melhor para ela, fazem coisa melhor com a Cabernet, e com a própria Carmènére, os Merlot argentinos (Patagônia) não entusiasmam, e assim por diante.
Então novamente, raios me partam, porque ainda não colocamos a Merlot no seu devido lugar, e não partimos para obter o reconhecimento que nosso vinho tinto já faz por merecer há algum tempo.
Será que aquele já mencionado espírito de associatividade dos nossos amigos gaúchos e suas incontáveis associações atrapalha mais do que ajuda neste caso, cada uma cuidando dos seus próprios interesses e das suas próprias inseguranças....será?
Como sempre qualquer coisa só vai para frente quando todos dão a sua contribuição, e também mais uma vez posso dizer que nossa parte até que não é lá das mais duras, na próxima vez que for beber um tinto, seja onde for, peça um Merlot brasileiro, na seguinte indique para seu amigo, e assim por diante, fácil né ?
“Viva nosso vinho brasileiro! viva nossa Merlot!” (bem, espero que os bons marqueteiros tenham idéias melhores que eu....)

“Nunc est bibendum”, um Merlot brasuca por favor...
Até breve, Bacco a seu dispor.

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