quinta-feira, 31 de maio de 2012

DDD-BACCO nº8 - Châteauneuf do que???

Papo de vinho pós jogo - Châteauneuf-du-Pape é bom mesmo????
Fim de jogo, mais um sábado, mais uma dupla entre amigos nas quadras de tênis, hora então de sentar na mesa do bar, pedir uma cerveja ( eu quase sempre passo ), e editar o vídeotape da partida.
Tarefa fácil quando você é o vencedor, difícil quando não é bem o caso, aí quem sabe se a gente muda de assunto......
Numa dessas vem meu parceiro Tito e dispara; esta semana lá no Japão eu tomei um Châteauneuf-du-Pape, gostei, é bom mesmo?
Pô Tito, precisa ir ao Japão para beber um Châteuaneuf???
Como não foi bem um sábado de vitórias, peguei a deixa e não larguei mais........
Senhores, estamos falando do hoje famoso Rhône ( Ródano), cujo vale se divide claramente em duas partes.
O prestigiado Norte, terra da tinta Syrah e da branca Viognier, damas de honra de grandes apelações (AOC’s), Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Condrieu,...entre outras. (outra história)
O mais modesto Sul, onde quem manda mesmo é a apelação Châteauneuf-du-Pape, cujo vinho (de mesmo nome) construiu seu inegável “carisma” montado na rica história da região.
Meados do séc.14, na outrora propriedade dos lendários Templários o papa João XXII (um encorajador da viticultura) mandou construir um castelo para ser usado como residência de verão do papado. Um cisma na igreja transferiu os papas dissidentes para a França, o papado se estabeleceu neste castelo em Avignon entre 1378 e 1410, e o vinho pegou emprestado seu nome...simples assim.
Além da bela história, ainda convivemos com a no mínimo curiosa permissão/tradição local para se utilizar 13 castas na elaboração do vinho, é uva que não acaba mais, tintas e brancas, e claro, ele se aproveita disso também para construir sua fama.
Hoje em dia a coisa não é bem assim, na grande maioria dos bons vinhos predomina a complexa Grenache, com ajuda da Mouvèdre e uma mãozinha da Syrah e eventualmente da Cinsault.
O que então podemos esperar de um Châteauneuf ? veja bem companheiro, de longe a maior AOC do Ródano, mais de 3.000 hectares, quase 10 milhões de litros de vinho por ano, diversos solos, diversas cepas, inúmeras técnicas de produção, podemos esperar de tudo, até vinho bom, quando isso acontece é muito prazeroso, um vinho potente, encorpado, e com potencial de envelhecimento, o que significa “bouquet”.
É isso meu caro Tito, se levarmos em consideração aqueles produtores que convivem e usufruem da rica tradição da região, mas não abrem mão da qualidade, então podemos dizer, o Châteauneuf é bom sim, mas cuidado ou você conhece o produtor ou você confia no importador, em qualquer outra situação esqueça, economize sua grana. Valeu?

“Nunc est bibendum”, no próximo sábado nós ganhamos a dupla !
Até breve, Bacco a seu dispor

Obs : AOC = Appellation d’Origine Controllé
Thanks : Gasnier, Viotti, Dominé.....Tito,Mario,Dante

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho II

Crescente Fértil – Na procura do 1º do vinho

Tem gente para tudo neste mundo, inclusive arqueólogos e historiadores empenhados na busca das origens do nosso vinho de cada dia, sorte nossa !
O caminho de volta para o passado é longo, muito longo, começa no final da Idade da Pedra, um período que compreende + de 4 mil anos, entre 8.500 a 4.000 a.C, difícil de imaginar!
Provas arqueológicas e botânicas sugerem que as videiras foram cultivadas pela primeira vez no Oriente Médio antes de 4.000 a.C, talvez por volta de 6.000 a.C
As sociedades do Neolítico além de cultivar a uva, sabiam guardar o resultado da fermentação, usavam vasos de argila para isso, e devidamente tampados, impressionante!
Uvas silvestres cresciam na Europa e parte da Ásia, mas indícios de fabricação de vinho aparecem com mais evidências em uma região delimitada do Crescente Fértil (foto ao lado), as encostas do Cáucaso, entre o Mar Negro e o Cáspio, nas montanhas Tauros do leste da Turquia, e parte das montanhas Zagros no oeste do Irã.
O vinho passou a fazer parte da dieta do Neolítico junto com pão e cerveja, cozimento, maceração, fermentação, e uso de temperos estavam sendo descobertos!
A bebida e a resina das árvores onde cresciam as videiras e que acabava misturada ao vinho, foram desde sempre reconhecidas como tendo importantes propriedades medicinais.
Alguns afirmam até que sociedades da época que tinham o hábito de beber vinho teriam sido mais saudáveis do que as demais!
“Nunc est bibendum”, até o próximo capítulo
Até breve, Bacco a seu dispor...

Obs: Crescente Fértil, nome dado em função do seu formato, banhado por rios históricos, Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo, berço do primeiro assentamento agrário há 11.000 anos!, hoje Israel, Cisjordânia, Líbano, Jordânia, Síria, Iraque, Egito, Turquia, e Irã.

Ref : Hugh Johnson, Rod Phillips, Jancis Robinson, Allen Warner...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Rapidinha - Breve história do Vinho - I

“ Uma joint- venture entre Homem e Natureza”

Entre todas as comidas e bebidas com as quais convivemos nos dias de hoje, o vinho é sem dúvida uma das mais ricas historicamente e mais simbólicas culturalmente falando.
Claro que tudo o que comemos e bebemos tem um passado, pão, cereais, cerveja, café....,mas nenhum outro elemento da dieta ocidental tem uma história tão rica e complexa como o vinho.
Em tese produzir um vinho é simples:
Você começa com um solo rico e fértil.
Planta nele tocos de videiras de origem nobre.
A natureza acrescenta água e luz solar.
As videiras dão frutos.
Os frutos são colhidos, esmagados, fermentados, e envelhecidos.
E aí então você bebe!
Esta descrição de um produtor australiano tão ingênua quanto correta, nos leva a uma reflexão “ o vinho é sim produto de uma joint-venture entre o homem e a natureza!”
Grande parte da história do Vinho que será contada aqui se baseia neste íntimo relacionamento, verdade que nem sempre tão harmonioso assim, as dificuldades sempre estiveram presentes, vindas dos dois lados indistintamente, guerras, dominações, crenças religiosas, hierarquia social, barreiras políticas e econômicas e também invernos rigorosos, vulcões, enchentes, secas, pestes, e doenças.........o que só vem acrescentar mais valor ao vinho.

“Nunc est bibendum”, até o próximo capítulo......
Até breve, Bacco a seu dispor.

Ref: Rod Philips, Hugh Johnson, Jancis Robinson.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Rapidinha - Genro assim não tem preço

João Pedro meu genro português voltou da terrinha com alguns mimos para o sogrão.

“Quinta do Vale Meão 2009”
“Incógnito 2008”
“Chryseia 2006”
“Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2009”

Depois de devidamente degustados, a constatação de que genro assim não tem mesmo preço, o vinho português está cada vez mais elegante (recomendo!), e o vinho no Brasil é muito caro.

"Nunc est bibendum".
Até breve, Bacco a seu dispor........
Thanks : Minha filha Tatiana pela assessoria na escolha dos mimos.



domingo, 13 de maio de 2012

Rapidinha - Alô Mamãe!

Presente caprichado, almoço animado, família reunida, paz nos corações, domingo feliz, dia de rainha, Dia das Mães!
Beijão para todas elas...............

"Nunc est bibendum"
Até breve, Bacco a seu dispor.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Clássico - Chile x Argentina

 
 
Quem é o melhor? Quem faz o melhor vinho? A resposta está nos números? Será que é assim fácil responder? Vamos tentar juntos? De qual você gosta mais?

Juntos eles têm mais da metade do nosso mercado de vinhos, um mercado de R$ 292 Milhões (FOB) e quase 8,5 milhões de caixas.
O Chile firme na liderança com 35% delas, a Argentina cresce e hoje tem 23% das caixas que chegam ao Brasil. Em valores, a fatia destes milhões que pertence ao Chile é de 30%, a da Argentina 22%.
 Os especialistas dizem que o bom vinho começa no campo, a velha teoria do “terroir”, ambiente, localização, clima, solo, cuidados.....etc. Os dois correm lado a lado, mirando-se o tempo todo, Santiago está a 50 min. de vôo de Mendoza, mas tem um detalhe, o que os separa é só a cordilheira dos Andes! no seu trecho mais alto!
 Conclusão: dois pólos opostos quanto à sua natureza, ou então um “terroir” distinto para cada um. Diferentes nas suas características, mediterrânico para um entre o Pacífico e os Andes, desértico para o outro escondido pelos mesmos Andes, mas com a graça das altitudes, a mãe natureza cuida dos dois com o mesmo carinho, ambos abençoados como nunca por Baco. Empate técnico!
 Estes mesmos especialistas gostam de valorizar os recursos tecnológicos empregados nas adegas, e o nível de conhecimento dos enólogos e suas técnicas utilizadas na elaboração do vinho, e coisa e tal.Inicialmente as barreiras e as dificuldades eram as mesmas para os dois, organizações familiares, algumas centenárias, cultura e tradição arraigadas, peso da história do vinho em cada país ( igualzinha !), apesar do bom consumo interno, o forte gosto popular pelo vinho corrente de uva rústica não vinífera, a necessidade de buscar outros mercados para crescer efetivamente.......etc. Empate técnico!
 O Chile começou a olhar para a modernidade um pouco antes da Argentina, por volta de 80 importou tanto tecnologia como conhecimento, arejando sua industria vinícola, os hermanos começaram depois mas foram extremamente competentes, igualando o placar já no início dos anos 00. Empate técnico!
 Os dois optaram pela estratégia de apresentar ao mercado a sua “cepa emblemática”, sua “uva ícone”, estão aí para todos verem e apreciarem, cada uma com seu reconhecido potencial, a Carmenére e a Malbec. Empate técnico!
 Os dois usando e abusando das suas diversidades de solo e clima, adaptaram em suas distintas regiões uma grande variedade de uvas, extraindo de cada uma delas vinhos de qualidade, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier,....etc. Empate técnico!
 O “isolamento” dos dois, mesmo que de forma distinta, os protege de forma igual de pragas e fungos, ponto para a cultura de vinhos orgânicos e biodinâmicos. Empate técnico!
A necessidade de ambos terem que atingir públicos e mercados tão distintos como Brasil , EUA, China, os leva igualmente a produzir toda a gama de vinhos, “ frutados simples honestos e baratos”, aqueles que vemos com mais frequência nas prateleiras do supermercado, os chamados “reservas”, alguns de excelente custo x benefício,e os finos “gran reservas” ícones caros de reconhecida alta qualidade. Empate técnico
Ok, o Chile tradicionalmente tem uma economia mais organizada (Cristina Kirtchner ninguém merece!),mas acho que aqui o que vale mesmo é a garra e a determinação do produtor de vencer obstáculos e alcançar o sucesso,(será um exemplo para os brazucas?) eu não vejo diferença entre eles. Empate técnico
 E aí companheiro? Quer palpitar? Qual é o melhor? De quem você realmente gosta mais? Porque? Aguardo sua resposta!
 “Nunc est bibendum” – e o Brasil Bacco? Bem....somos penta!
 Até breve, Bacco a seu dispor.
 Thanks : Viotti, Amarante, Jancis, Revista Adega.