Fim de jogo, mais um sábado, mais uma dupla entre amigos nas quadras de tênis, hora então de sentar na mesa do bar, pedir uma cerveja ( eu quase sempre passo ), e editar o vídeotape da partida.
Tarefa fácil quando você é o vencedor, difícil quando não é bem o caso, aí quem sabe se a gente muda de assunto......Numa dessas vem meu parceiro Tito e dispara; esta semana lá no Japão eu tomei um Châteauneuf-du-Pape, gostei, é bom mesmo?
Pô Tito, precisa ir ao Japão para beber um Châteuaneuf???
Como não foi bem um sábado de vitórias, peguei a deixa e não larguei mais........
Senhores, estamos falando do hoje famoso Rhône ( Ródano), cujo vale se divide claramente em duas partes.
O prestigiado Norte, terra da tinta Syrah e da branca Viognier, damas de honra de grandes apelações (AOC’s), Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Condrieu,...entre outras. (outra história)
O mais modesto Sul, onde quem manda mesmo é a apelação Châteauneuf-du-Pape, cujo vinho (de mesmo nome) construiu seu inegável “carisma” montado na rica história da região.
Meados do séc.14, na outrora propriedade dos lendários Templários o papa João XXII (um encorajador da viticultura) mandou construir um castelo para ser usado como residência de verão do papado. Um cisma na igreja transferiu os papas dissidentes para a França, o papado se estabeleceu neste castelo em Avignon entre 1378 e 1410, e o vinho pegou emprestado seu nome...simples assim.
Além da bela história, ainda convivemos com a no mínimo curiosa permissão/tradição local para se utilizar 13 castas na elaboração do vinho, é uva que não acaba mais, tintas e brancas, e claro, ele se aproveita disso também para construir sua fama.
Hoje em dia a coisa não é bem assim, na grande maioria dos bons vinhos predomina a complexa Grenache, com ajuda da Mouvèdre e uma mãozinha da Syrah e eventualmente da Cinsault.
O que então podemos esperar de um Châteauneuf ? veja bem companheiro, de longe a maior AOC do Ródano, mais de 3.000 hectares, quase 10 milhões de litros de vinho por ano, diversos solos, diversas cepas, inúmeras técnicas de produção, podemos esperar de tudo, até vinho bom, quando isso acontece é muito prazeroso, um vinho potente, encorpado, e com potencial de envelhecimento, o que significa “bouquet”.
É isso meu caro Tito, se levarmos em consideração aqueles produtores que convivem e usufruem da rica tradição da região, mas não abrem mão da qualidade, então podemos dizer, o Châteauneuf é bom sim, mas cuidado ou você conhece o produtor ou você confia no importador, em qualquer outra situação esqueça, economize sua grana. Valeu?
“Nunc est bibendum”, no próximo sábado nós ganhamos a dupla !
Até breve, Bacco a seu dispor
Obs : AOC = Appellation d’Origine Controllé
Thanks : Gasnier, Viotti, Dominé.....Tito,Mario,Dante