terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Phylloxera Vitifoliae??!!


Ou, ao contrário do “Desafio de Paris” a vez que americanos e franceses se entenderam numa boa.

Esta inocente vespinha aí do lado é a tão terrível quanto famosa “filoxera”.
No final do século XIX com angustiante simplicidade , uma leve picadinha na raiz da videira, ela arrasou os vinhedos da Europa.
No inicio do século XX a grande maioria dos vinhedos do Mundo tinha sido atacado pelo bichinho.
A filoxera tem passaporte americano, partiu de lá para espalhar o terror no velho continente começando pela França naturalmente.
Ironicamente foram as próprias videiras americanas, as salvadoras do pedaço, explico.
Simplificando, a espécie de videira européia, a conhecida Vitis Vinífera, produz as uvas certas para os vinhos de qualidade, porém com raízes sensíveis à picada do inseto ( a ferida provocada pela vespa não cicatriza, inflama, e mata a planta..)
A espécie de videira americana, Vitis Labrusca, Vitis Riparia...., produz uvas de mesa docinhas, sucos ótimos, e.... vinhos medíocres, mas com uma raiz que não toma conhecimento do bichinho, legal né?
Daí nasceu a solução ( após muito estudo é claro ), fazer um enxerto com as duas espécies, pé americano e caule europeu.
A videira americana incapaz de oferecer vinhos de qualidade, foi promovida a “porta-enxertos” com atuação em quase todo o mundo vinícola, beleza de solução.
Aí você me pergunta, o que o Chile tem que ver com isso ? Não é dele que estávamos falando?
Pois é, o Chile (salvo raríssimas pequenas exceções ) é o único país produtor de vinhos a salvo da filoxera, vocês se lembram das tais barreiras naturais, então esta é a explicação.
Quando não se tem enxerto, o plantio é chamado de “pé franco”, nesta condição as videiras vivem por mais tempo, e segundo alguns especialistas, apresenta mais vigor do que as enxertadas
Ponto para os vinhos chilenos!
Após a devastação dos vinhedos franceses, estes decidiram não mais plantar a Carmenère, estas renasceram aonde? No Chile é claro, que assumiu sua paternidade e deita e rola na fama dos seus vinhos, únicos por sinal.
Ponto para os chilenos, again! (baita inveja....)
“Nunc est bibendum”, um Carmenère por favor....
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref :”Conheça Vinhos” – Dirceu Vianna Jr. / José Ivan Santos

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Chile-Um Mosaico de Opções e Oportunidades


Montanhas imensas, desertos áridos, mares extensos, geleiras pétreas, vulcões ameaçadores, tudo isso junto em uma “tirinha de terra” esta é a realidade da natureza diversificada do Chile, para o bem ou para mal. Deus é quem decide dizem os mais crédulos.

Se isso for verdade, no caso da viticultura Ele tomou a direção do bem, com toda esta diversidade e ao mesmo tempo com toda esta proteção natural,as regiões vinícolas do Chile são únicas no mundo,um privilégio para poucos, e os produtores locais não se fazem de rogados, aproveitam ao máximo, em todos os sentidos.
Minha visão do vinho chileno atual? : tem vinho bom para aquele iniciante curioso, tem vinho bom para o apreciador seguro ($), tem vinho bom para o que acha que entende, tem vinho bom para o que realmente entende,.....tem vinho bom para qualquer perfil de bebedor.
Faz a festa em qualquer prateleira de supermercado, em qualquer bancada de loja importadora, em qualquer carta de restaurante, em qualquer evento gastronômico, em qualquer degustação às cegas.
Seus “varietais” tão fáceis de serem reconhecidos como bebidos estão em toda a parte, na boca de todos, literalmente.....
“Adoro um Carmenere”(exclusividade chilena!), meu preferido é um Merlot, gosto muito do Chardonnay, e assim por diante, muitos não sabem ou não ligam para a origem em si, a sua uva preferida está lá, estampada no rótulo e basta. Bebem felizes da vida,.... uma grande jogada.
O potencial incrível de cada vale chileno permite que eles façam Cabernet Sauvignon com jeito de Bordeaux, Chardonnay que lembra a Borgonha, Sauvignon Blanc que te leva para o Loire, e assim por diante,..... outra grande jogada.
Podem também produzir vinhos com elevada tipicidade, Elqui, Limarí, Choapa, Aconcaguá, Casablanca, San Antonio, Maipo (alto, médio, baixo), Rapel, Curicó, Maule, Itata, Bio Bio, Malleco, “vales” que estão sendo aos poucos dominados inteiramente pelos tenazes produtores chilenos, até o mais profundo segredo de cada um deles, e o resultado desta dominação?: Ícones é claro, finos elegantes, estupendos, comparáveis aos melhores vinhos do Novo e do Velho Mundo, sem exceção.
E por tenazes produtores podemos citar entre muitos outros, Tabalí, Errázuriz, Casas Del Bosque, Casa Rivas, Morandé, Matetic, Leyda, Garcés Silva, Canepa, Carmen, Valdivieso,Ventisquero, Chocalán, Haras de Pirque, Undurraga, Caliterra, Cousino Macul, Tarapacá, Lapostolle, Montes, Anakena, Altair, Los Boldos, De Martino, Cono Sur, Von Siebenthal, Viu Manent, Emiliana, Terranoble, Santa Ema, e claro, Santa Rita, San Pedro, Santa Carolina, e Concha y Toro,......................................tem muito mais, pesquise.
A vinicultura chilena é predominantemente voltada para a exportação, o povo local prefere a rústica uva “país” e seus vinhos de mesa, e neste sentido o sucesso é facilmente reconhecido.
Líder de vendas no Brasil há 10 anos, em 2011 cresceu mais ainda, tem 35% do nosso mercado, será que um dia vamos incomodar estes caras??, os hermanos têm mais chance neste momento.
“Nunc est bibendum”, um reservado, clássico, reserva, gran reserva, o que seja não importa, deste que seja chileno.
Até breve, Bacco a seu dispor.

Thanks : Viotti, José Ivan Santos, Adega......Gabriela Mistral, Pablo Neruda.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Vinhos de Butique


“Cada vinho é uma criatura única, de origem geográfica,........ os melhores sempre revelam com orgulho de onde vêm” – trechos do livro de Neal Rosenthal.

Neste final de semana li seu livro, um respeitado negociante de vinhos de NY, expoente conhecedor e defensor do conceito de “terroir”
Relembrando o conceito já discutido aqui no blog, na concepção dele: “..as particularidades de cada região...a combinação solo, clima, tipo de uva e talvez, história humana,.....são responsáveis pelas características especiais e únicas dos vinhos nela produzidos.
Passei pelas 250 páginas em um fôlego só, uma leitura muito gostosa, ao expor sua visão muito particular e principalmente sua paixão pelo mundo do vinho, Neal consegue nos tornar cúmplices dos seus sonhos.
Outro olhar sobre a obra, agora para os mais pragmáticos, muito além do negócio de vinhos, a maneira como ele traça seus planos e metas, seus objetivos de aprendizado, e principalmente sua visão e abordagem no relacionamento com seus potenciais clientes/fornecedores podem ser comparados a uma boa tese de doutorado em qualquer MBA de qualidade reconhecida.
Porém discordo da sua visão crítica sobre “os métodos modernos do Novo Mundo”, e “sua necessidade de produzir vinhos atraentes em sua juventude, e levados ao mercado o mais rápido possível”
Pois é justamente esta base de vinhos prontos para o consumo, vinhos honestos de boa qualidade, e também de ótimo custo/benefício, a razão do sucesso da indústria vinícola do Chile.
E o sucesso tem que fazer parte do negócio, certo ou não?
Com raras exceções, o confrade, conhecedor experiente, o colecionador apaixonado, o exibicionista abonado, para os demais cristãos apreciadores eventuais ou não de um bom vinho, a imensa maioria por sinal, para estes qual seria o caminho natural, que tal o tinto chileno da prateleira do super mercado da esquina, ou no máximo o da loja de vinhos mais próxima.
Garanto que ele vai sair satisfeito com a escolha, diga-se de passagem pronta para ser consumida ,bem dentro daquilo que ele se dispunha a gastar, e tranqüilo quanto ao resultado quando mais tarde em boa companhia, o vinho for aberto e bebido.
Não entendo quando alguns críticos se referem a uma tal “falta de elegância” quando estão frente à um bem trabalhado, carnudo, potente, alcoólico, madeirado Cabernet tinto chileno.
Muito cuidado aqui companheiro, na busca da tal da “elegância” se você não estiver disposto, ou não quiser mesmo colocar a mão no bolso, pode acabar abraçado a um Bourgone Rouge muito sem graça, aguadinho de morrer ( os realmente elegantes e bons são para poucos....).
Os vinhos de exceção, os ícones, os vinhos de butique como o Neal os chamou em seu livro estão aí e fazem parte do eleitorado, e assim como o Velho, o Novo Mundo está pronto para provar que também tem todas as condições de produzi-los
Coincidência ou não, este ano nas reuniões da confraria vamos degustar vinhos de garagem, vinhos de pequenos produtores, e o Chile já deu sinal de vida com os excelentes Parcela#7 e o varietal Carmènére, ambos da pequena Von Siebenthal, instalada ali no Valle del Aconcágua, vizinhando nada mais nada menos com o ícone chileno Seña.
A próxima será a também pequena Gillmore com suas vinhas do Valle del Maule, a maior e mais antiga região vinícola do Chile.
“Nunc est bibendum”, um vinho de butique, do Novo Mundo por favor, recomendo os aqui citados...
Até breve, Bacco a seu dispor

Ref: Vinhos de Butique – Artesanais,Raros,e Tradicionais – Neal Rosenthal, recomendo a leitura.
Foto: Confraria Bacco Ubriaco em ação...