domingo, 27 de novembro de 2011
Toscana - Além do Chianti
“Ver um agricultor toscano a fazer um ricotta fresco, com as suas vacas no estábulo ao lado, as cebolas do ano passado e os tomates do último verão pendurados nas vigas ao lado de prosciutto feito em casa, é começar a entender a auto-suficiência”
O Chianti e a Toscana são celebridades únicas que de tão íntimas até se confundem, mas quando o assunto é vinho, certamente ela a Toscana berço da Renascença, além de arte, construções históricas, cultura e tradição, nos presenteia também com o Brunello, o Vino Nóbile di Montepulciano, o Carmignano, o Morellino de Scansano, e mais recentemente com os Supertoscanos, sobre estes que vamos parlar súbito....
Os Supertoscanos (adoro este nome) nasceram nobres e trazem consigo a áurea de “rebeldes com causa”, o que de certa forma atrai simpatias (e anti..) desde o primeiro momento (hay govierno soy contra....)
A nobreza vem dos pioneiros visionários, Mario Incisa della Rocheta (Sassicaia!) e Marquês Antinori(Tignanello!), seguidos posteriormente de outros, Fontodi ( Fraccianello) Setti Ponti (Oreno).....etc
Limitados e principalmente frustrados pelas regras (ultrapassadas) impostas pelas “Denominações de Origem” (DOC), optaram pela “revolução” e partiram para a criação de uma nova linhagem de vinhos de alta qualidade.
Naturalmente deixaram certas tradições de lado, optaram por novas tecnologias, e fundamentalmente se apoiaram em castas nobres francesas como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot,...etc,tudo isso no coração da Itália!
As DOC(G) foram abandonadas sem dó nem piedade, a competição e principalmente a sobrevivência eram temas mais urgentes, e estes vinhos passaram a ser reconhecidos pela nova denominação IGT, (Indicação Geográfica Típica) não raro com uma imagem moderna, elitista, quase sempre associada a preços altos
A qualidade está lá , isso não se discute, Sassicaia, Tignanello, Ornellaia, Solaia, Flaccianello, Satta, Oreno, Guado al Tasso..., mas o termo supertoscano ( cunhado pelos americanos ) associado à um marketing para lá de inteligente foram decisivos para a colocação destes vinhos no lado “top” do mercado.
Do ponto de vista restrito de valor ($), todos estes “super-toscanos” também são “super-avaliados”, bom para o produtor, ruim para nosso bolso.
Para a Itália vinícola, conservadora e tradicionalista por excelência, não deve ter sido fácil entender muito menos aceitar, como na Enotria, na Terra do Vinho, berço da rainha Sangiovese e outras centenas de castas nativas, um vinho feito apenas de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc atingisse a expressão que o Sassicaia atingiu.
Mais um vinho estilo “Bordeaux” para americano rico, chinês idem, contribuição “parkerniana”, diriam os mais radicais......
Não sou italiano, algum sanguinho de uma avó talvez e só (saudades vó Leopolda Sartori), mas eu acho que consigo entender um pouco a angústia e o desalento que deve se instalar naquele produtor fiel à suas tradições, pouco afeito aos caminhos tortuosos e agressivos do “enobusiness”, c’est la vie !, ops, scuse.
Ok, polêmicas à parte, até podemos sonhar, mas não podemos esquecer as regras de um mercado difícil, competitivo, onde o vinho que se vende e pelo preço que se vende é aquele que o cliente gosta e está disposto a pagar por ele, paciência...
Não me vejo como um xiita, e conheço meu gosto,mas me sinto particularmente mais confortável, em paz comigo mesmo, ao degustar um Chianti 100% Sangiovese quando me proponho a beber um vinho italiano, um legítimo toscano.
A boa notícia para os defensores da tradição, do terroir,...etc, é que em Bolgheri e Marema, na costa toscana, berço dos supertoscanos, os mais eficientes enólogos já conseguem excelentes resultados com cortes de Cabernet e Sangiovese e até mesmo com 100% de Sangiovese.
Os deuses lá no Olimpo estão mais calmos......................................
“Nunc est bibendum”, viva a Toscana
Até breve, Bacco a seu dispor...........
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