quinta-feira, 30 de junho de 2011

Edição Extra - Grátis...



De graça ?
(no free lunch...)


Concursos, premiações, pontuações, ranking, eles estão aí e fazem parte do mundo do vinho, não tem como mudar isso...
Olhando com bons olhos, eu diria que eles (alguns) até guardam uma relação com a qualidade do vinho, mesmo levando em consideração toda a subjetividade inserida nestes julgamentos, sem mencionar a força do marketing sempre presente
Eu assumo que às vezes me deixo levar por uma premiação ali, outra pontuação aqui, um ranking então me dá até “comichão”!
É por isso que resolvi interromper nossa viagem por Portugal para comentar um “ranking” publicado em uma das nossas boas revistas de enogastronomia: “ 100 rótulos que valem a pena beber”
Separei os 44 tintos até R$ 200,00 divididos pelas suas faixas de preço ( os outros são brancos, rosés, espumantes e doces..), e pelo menos 4 fatos me chamaram a atenção, três gratas surpresas e uma pequena desconfiança..
Olhando por país, é Portugal quem tem o maior time, 12 ao todo, em linha com que eu disse em um post passado, eles estão entre nós...... e agradando cada vez mais ( primeira grata surpresa)
Há cinco brasileiros na lista !, eu acho um número bastante expressivo (segunda grata surpresa)
Quase não há chilenos???, apenas 2, acho muito estranho...( primeira desconfiança...)
O tinto do ano segundo a revista é um português, o Tapada do Fidalgo Reserva 2008, típico alentejano vinificado à partir de Aragonês,Trincadeira e Alicante Bouschet ( terceira grata surpresa)
Sabe de uma coisa, agora fiquei com vontade de mencionar aqui no blog, quais são os outros portugueses e os brasileiros da lista... e lá vai :
Até R$ 50,00, bom custo benefício...
Rapariga da Quinta 2008, provei um apresentado pelo meu amigo Afonso, muito gostoso....vai nessa
Vinha do Putto 2009, da Bairrada c/ uvas portuguesas e francesas mescladas....não conheço ainda
Entre R$ 50,00 e R$ 100,00, ainda razoável.....
Crasto Superior 2007, ótimo vinho, a Quinta do Crasto é um dos bons exemplos do Douro moderno, se lembra dos Douro Boys ?
Luis Pato Vinhas Velhas 2007, o Luis é um dos enólogos mais respeitados de Portugal, domina a casta Baga como ninguém
Vadio 2005, outro feito com a uva Baga, vale a pena tentar...eu vou
Entre R$ 100,00 e R$ 200,00, já estamos falando de vinhos que precisam mostrar para que vieram...coisa de gente grande.....
Quinta das Bageiras Garrafeira 2005, outro vinho produzido à partir da uva Baga !, interessante....
Roquette &Cases 2006, intenso, ótimo corpo, um Esporão no Douro ( 15% de álcool, uau !)
Colinas de São Lourenço Private Collection 2005, mescla interessante de Merlot,Touriga e, e, Baga !
Pequeno São João 2008, outro português que pede ajuda para uma casta francesa, Syrah neste caso, mesclada com Touriga e Aragonês
Apegadas Quinta Velha Grande Reserva 2007, outro Douro legítimo
Herdade do Rocim Olho de Mocho Reserva 2007, um alentejano que também pede ajuda da Syrah
Herdade do Esporão Syrah 2008, ótimo varietal, a casta Syrah está muito bem adaptada no clima quente do Alentejo, este Herdade tem muita tipicidade além de boa elegância ...
Os brasileiros mencionados pela revista são o “Pequenas Partilhas Carmenèré 2009 da Aurora, o Aurora Reserva Tannat 2009, o Merlot Reserva Pizzato 2006 (recomendo experimentar) e o Dal Pizzol Touriga Nacional 2009, todos até cinqüentão e o quinto um pouco mais caro, é o Pizzato DNA99, 2005 (R$110,00), um Merlot de impacto, vou abrir o meu na sequência......pode apostar
Interessante ver além da Merlot, para mim a uva mais bem adaptada às condições gaúchas, uma Tannat, uma Touriga, e até uma Carmenèré ancorando bons vinhos nacionais, legal mesmo.
Ok, matei a vontade de ler, comentar, (e beber) um ranking, é assim, ruim com eles, pior sem eles................
Não se acanhe, vá por ele também, na próxima vez escolha uma indicação destas...

“Nunc est bibendum”, eu vou de Pizzato DNA99 Merlot
Bacco a seu dispor

Obs : Estes vinhos fazem parte da lista de centenas de vinhos degustados ao longo de 2010 e 2011 pelos colaboradores da mencionada revista..muito mais do que o blogueiro aqui foi capaz no mesmo período ...

sábado, 25 de junho de 2011

O OUTRO DOURO....



Muito além do Porto, Douro DOC !
O Porto foi, é, e sempre será o vinho mais emblemático de Portugal, e na minha modesta opinião, todos nós deveríamos explorar melhor suas qualidades e suas potencialidades.
Você se lembra da minha sugestão ? Já comprou seu LBV?
Mas a verdade é que não dá para deixar só para ele o Porto, a responsabilidade de manter Portugal em uma posição de reconhecimento e prestígio mundial no atraente e complexo mundo do vinho, uma nova digamos “vocação” precisaria ser colocada em prática.
Os próprios patrícios já reconheceram isso há algum tempo, e especificamente no Douro já é possível encontrar iniciativas concretas, voltadas para a melhoria da qualidade do “vinho de mesa” português (é assim que eles chamam por lá os vinhos não fortificados)
Uma delas diz respeito aos “Douro Boys”, a iniciativa é brilhante, o marketing é inteligente, mas não gosto muito da denominação, me lembra o “Sunset Boys”, uma bandinha fajuta de rock, pop, sei lá o que, que eu dividia com mais 4 amigos de juventude , nos incomparáveis anos 60 ! (Douglas, Tatá, Cunhado, Gerardinho, amigos, peço desculpas pelo “fajuta”, assumo total responsabilidade pelo julgamento )
Bem voltando para os Boys, os do Douro, este um grupo de 5 jovens dinâmicos, com uma visão moderna de negócios, que decidiram unir suas “Quintas” no objetivo comum de promover a qualidade dos seus vinhos,... e estão conseguindo , com a vantagem de levar o sucesso alcançado para todo o Douro, a casa do Porto, não é pouca coisa.....
Começar a apreciar os vinhos de mesa do Douro por estas Quintas , é como seguir uma rota de Portos seguros ( péssimo trocadilho, assumo esta também, sorry ! )
São elas, Quinta do Crasto, Quinta do Vale Meão, Quinta do Vale Dna Maria, Quinta do Vallado, e Niepoort (Quinta de Nápoles e Quinta do Carril )
Um “terroir” que impõe diversos sacrifícios climáticos (solo e clima ) para suas vinhas ( uma virtude ), é capaz de oferecer ao produtor competente, a possibilidade de se produzir vinhos escuros, densos, complexos, encorpados, longevos, de presença marcante.... um presente para o nosso paladar,sempre em franco progresso eu espero...(alguém se lembra do Chateau Duvalier, o máximo !)
A melhor forma de apurar o paladar é experimentar, diversificar, e beber sempre é claro (com alguma moderação, por favor)
Não fique intimidado pelo desconhecido, experimente, arrisque, nestas horas, um tinto duriense pode ser uma boa escolha.
Concluindo uma região como a do Douro, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, merece esta e outras iniciativas voltadas para a promoção da qualidade dos seus produtos, e permitir que ela se expresse para o mundo através de 2 tipos muito diferentes de vinhos....

Ficamos por aqui, até breve, até o Alentejo....
“Nunc est bibendum”
Bacco a seu dispor

Obs : Outras “Quintas” durienses, Quinta do Côtto, Quinta da Gaivosa, Quinta da Leda, Quinta do Vesúvio, Quinta de Roriz,Quinta do Noval.....

quarta-feira, 15 de junho de 2011

DOIS DOUROS !


Vinho do Porto, ..um poema Luso
“Douro, rio e região, é talvez a realidade mais séria de Portugal” (Miguel Torga-1957)
No extremo noroeste do país, o Douro nos oferece uma das mais incríveis, únicas, e belas regiões vinícolas do mundo.
O rio Douro,com seu desfiladeiro esculpido de forma titânica, suas montanhas de paredes íngremes, e seus terraços (socalcos) de xisto, estes construídos pela mão do homem (literalmente), onde estão plantadas das vinhas, formam a imagem de referência desta região, que entre outras coisas é um tesouro para o “enoturismo”, atividade muito em moda nos tempos atuais diga-se de passagem........
É também a casa do aristocrático e exclusivo Vinho do Porto, orgulho nacional, o primeiro dos dois Douros do título . O Douro do Porto !
O vinho do Porto tem mais de 300 anos, e por aqui tenho a opinião de que poucos o conhecem como deveria ou pelo menos como merecia.
Uma criação portuguesa que os ingleses primeiro imploraram e depois mostraram para o mundo, o vinho com mais história do que qualquer outro
Foi o primeiro a ser engarrafado, o primeiro a ter sua região devidamente demarcada, o primeiro a se utilizar de um rótulo! ...
Não merece de modo algum a visão comum de um licor “docinho” para ser servido como aperitivo, excelente digestivo se consumido com moderação ....
A mais pura maldade, ainda que inconsciente, daquela sua tia solteirona..... com sua (horrível) licoreira predileta, ali onipresente na entrada da sala de visitas.........
Reconheço que as dificuldades do Porto não são poucas, nada relacionado com a titia porém,elas são reais....
Os muito bons são muito caros, os muito baratos são horríveis, a tendência mundial por consumir vinhos menos alcoólicos (12%,..) bate de frente com os 20% de graduação de um Porto (necessário), além da dificuldade de harmonizar um vinho que é naturalmente doce, (falta de hábito seria ? ) formam este cenário pouco favorável
Os Portos modernos são finos, elegantes,aveludados, complexos, e podem ser saboreados acompanhando sua sobremesa predileta, principalmente se for chocolate, sozinhos, ele é a própria sobremesa!, ou com alguns tipos de queijos, os azuis em especial
De forma simples podemos dividir os Portos em duas famílias, a dos Tawnies (aloirados,castanhos), vinhos macios, levemente oxidados, podendo ser normais e mais simples($) ou datados ( 10,20,30 e 40 anos) e bem mais complexos($$).
A outra família é a dos Portos frutados, começando pelo simplesinho Ruby($), até os complexos LBV (late bottled vintage)($$),e os top de linha Vintage($$$$!)
Este último literalmente um produto dos pés humanos, o “dispositivo” perfeito para extrair com maestria os ingredientes das uvas...(durante o corte cada milímetro de uva é pisado, de braços dados homens e mulheres sem nenhuma distração obedecem à um ritmo só,e por duas horas seguidas, depois mais uma hora, agora repleta de distração e cantorias)
São muitas as uvas utilizadas nos Portos, todas ibéricas, sem espaço para as famosas francesas, as principais são a touriga nacional, tinta roriz, tinta barroca, touriga franca e a tinta cão, entre outras...
Tem Porto branco também, mas deixa para lá.....
Claro que o vinho do Porto é por excelência um produto português,ninguém duvida, orgulho de produtores como Adriano Ramos Pinto,Ferreira, Fonseca Guimarães, Domingos Alves de Souza, Manoel Poças Jr,José Maria da Fonseca, e as inúmeras Quintas, do Noval, do Vallado, do Vale Meão,do Vesúvio,de Roriz, ....etc
Mas hoje e desde sempre, tem muito inglês por lá também, elaborando grandes Portos, Niepoort, Taylor, Symington (Warres,Graham,Dow), Burmester,.....etc
É isso, confinar um Porto em um “post” não é tarefa fácil
E o outro Douro ? Calma nós chegamos lá....aguarde em breve.

“Nunc est bibendum”
Bacco a seu dispor................

Thanks : Viotti,La Rousse,José Ivan Santos, José Maria Santana,Hugh &Jancis....Sergio de Paula Santos...
Obs : Minha sugestão : Um LBV.....(não dói tanto no bolso..e é sublime, pergunte para a Bia)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

"O mais português dos vinhos..."




Vinhos Verdes, o mais português....

Vinho verde não é propriamente verde, então cáspita porque este nome?
Alguns dizem que o nome vem do fato de haver muito verde na região, o que é a pura verdade, com altos índices de chuvas, a região se cobre de imensas áreas de vários tons de verde, um cantinho luso de uma natureza ímpar e de muita exuberância.
Castelos e ruínas romanas completam o cenário !
Já os enólogos afirmam que seus vinhos são conhecidos por verdes porque eles são elaborados para serem consumidos bem jovens, frescos, sub-maturados até, verdes entendeu ?
Na dúvida fique com as duas, quando o pragmático se associa ao romântico, a alma agradece............
“Vinhos Verdes” uma das regiões vinícolas mais antigas do mundo, tem sozinha 15% dos vinhedos de Portugal, é de longe a zona mais populosa do país, e também de onde partiu a maioria dos imigrantes que vieram para o Brasil !
Os tintos com forte expressão regional são na sua maioria rústicos, ácidos, e um pouco adstringentes (raspam demais para nosso gosto), quase sempre acompanham o bacalhau e as sardinhas na brasa, uma especialidade adorada por lá (prefira os brancos)
Os brancos são límpidos, secos, frescos, suaves, pouco alcoólicos, levemente frisantes (agulha), fáceis de beber, fáceis de gostar,acredite..
Continuando então, o vinho verde que na verdade não é verde, é branco!, mas pode ser tinto também ?,é produzido na região chamada de Vinhos Verdes....hum.....peguei, tá legal....
Agora que você já sabe que os vinhos verdes que na verdade são brancos ou tintos e são produzidos na região de Vinhos Verdes, localizada no extremo norte de Portugal, fique sabendo que ela também é conhecida pelo nome de Entre-Douro-e-Minho, sabe porque ?
Esta é fácil, a região é limitada ao norte pelo rio Minho e ao sul pelo rio Douro, nada melhor e mais direto do que chamar a região de Entre ....coisa e tal, jeito de português, não tenha dúvida
Pega essa agora, alvarinho, avesso, azal, batoca, loureiro, arinto, rabigato, lameiro, esganoso, pintosa,.....pintosa !?, padeiro, sousão..epa !, doçal, rabo-de-anho,vinhão, verdelho... ......
Quem arriscou uvas ancestrais nativas (autóctones) pimba, a c e r t o u !
Esta é a beleza da coisa, estes vinhos absolutamente singulares, típicos ,elaborados com uvas nativas, perfeitamente adaptadas,nos dão a excelente oportunidade de deixar de lado por um momento os internacionais “chardonnay’s” e “sauvignon blanc’s” de sempre, e apreciar bons vinhos regionais ....que tal ?
Os brancos produzidos com a casta alvarinho são os mais celebrados, embora outros de loureiro, trajadura, arinto e avesso, também merecem destaque ( a indicação está no rótulo, é fácil de reconhecer )
O mais conhecido Vinho Verde ainda é o Casal Garcia, não há nada que eu possa fazer a este respeito, e embora ele ainda tenha seu fã-clube fiel, eu recomendo fortemente buscar alternativas mais modernas, vinhos de elaboração mais complexa, que certamente podem te oferecer um prazer maior.
O Palácio da Brejoeira já foi o tal, continua muito bom, mas hoje tem outras boas companhias, Alvarinho Deu la Deu, Alvarinho Muros Antigos, Muros de Melgaço, Alvarinho Soalheiro, e mais Alvaianas, Andreza Loureiro Escolha, Follies Alvarinho, Alvarinho Portal do Fidalgo, Quinta da Lixa Alvarinho, Senhoria Alvarinho Trajadura, Quinta do Amel Escolha, Quinta do Ameal Arinto, entre outros.......
Na próxima oportunidade, quando você for escolher um vinho branco para acompanhar seu peixe predileto, peça um verde !!

Ficamos por aqui, até breve..."nunc est bibendum"
Bacco a seu dispor.......................................

thanks : NovaCrítica-vinho,Jancis,Amarante,Viotti,..